Em meio à polêmica envolvendo a participação da boxeadora argelina Imane Khelif nas Olimpíadas, o Comitê Olímpico da Argélia (COA) se pronunciou. A entidade negou que a pugilista seja transexual e acusou veículos de imprensa estrangeiros de “difamação”. Entretanto, a organização não justificou o motivo de sua atleta ter falhado no teste de gênero do ano passado, nem explicou quais são as condições biológicas da jovem que podem lhe dar vantagem sobre outras mulheres.
– O COA condena veementemente a difamação e a perseguição antiéticas à nossa estimada atleta, Imane Khelif, com propaganda infundada de certos meios de comunicação estrangeiros. Tais ataques à sua personalidade e dignidade são profundamente injustos, especialmente enquanto ela se prepara para o auge da sua carreira nos Jogos Olímpicos. O COA tomou todas as medidas necessárias para proteger a nossa campeã – disse a entidade em nota enviada à BBC News.
Khelif e Lin Yu-ting, de Taiwan, foram desclassificadas no Campeonato Mundial Feminino do ano passado por não cumprirem os critérios de elegibilidade, reprovando nos testes de gênero. O evento foi organizado pela Associação Internacional de Boxe (IBA), cujo presidente afirmou que testes de DNA comprovaram que as atletas “tinham cromossomos XY (masculinos) e foram, portanto, excluídas dos eventos esportivos”.
O Cômite Olímpico Internacional (COI), por outro lado, decidiu autorizar a participação de ambas as atletas nas Olimpíadas de Paris de 2024, afirmando que elas se enquadram nas regras pré-estabelecidas.
– Esses atletas já competiram muitas vezes durante muitos anos, eles não chegaram de repente, eles competiram em Tóquio – declarou Mark Adams, porta-voz do COI.
Além disso, a entidade suspendeu a IBA em 2019 por suspeita de “manipulação de resultados”. Dessa forma, a organização de boxe não participou dos preparativos para os Jogos Olímpicos.
Em comunicado divulgado nesta quarta (31), a IBA afirmou que Khelif e Lin foram desqualificadas para “manter o nível de justiça e máxima integridade da competição”. Também relatou que elas não foram submetidas meramente a um exame de testosterona, mas sim a um teste bioquímico “separado e reconhecido, cujos detalhes permanecem confidenciais”.
– Este teste indicou conclusivamente que ambas as atletas não atendiam aos critérios de elegibilidade exigidos e tinham vantagens competitivas sobre outras competidoras femininas – completou a IBA.
ENTENDA
A luta entre a boxeadora italiana Angela Carini e a pugilista supostamente transexual Imane Khelif nas Olimpíadas de Paris 2024, nesta quinta (1º), durou somente 46 segundos. Isso porque Carini abandonou a disputa pela categoria de até 66kg do boxe feminino relatando dores intensas no nariz após dois socos da adversária. Na ocasião, a italiana de 25 anos atirou seu capacete ao chão e disparou “isso é injusto”, antes de deixar o ringue.
Aos 30 segundos de luta, Carini chegou a ir até seu treinador para consertar o capacete, mas ao retornar à disputa, ela decidiu parar de vez. O oficial da luta segurou a mão das duas pugilistas e ergueu a de Khelif no ar declarando-a vencedora, mas a italiana retirou a sua e caiu de joelhos, aos soluços.
Segundo informações do Daily Mail, após a partida, a atleta italiana desabafou dizendo à imprensa que, embora esteja acostumada a sofrer, ela nunca levou um soco tão forte em sua vida.
– Estou acostumada a sofrer. Nunca levei um soco assim, é impossível continuar. Não sou ninguém para dizer que é ilegal. Entrei no ringue para lutar. Mas não senti mais vontade depois do primeiro minuto. Comecei a sentir uma dor forte no nariz. Não desisti, mas um soco doeu demais, e então falei “chega”. Vou embora de cabeça erguida – declarou.
Carini afirma que sua desistência da luta não foi um protesto contra a liberação que permitiu Khelif competir na categoria feminina, mas destacou que sua situação deve ser considerada pelas Olimpíadas.
– Eu não perdi hoje, apenas fiz meu trabalho como lutadora. Entrei no ringue, lutei e não consegui. Saio de cabeça erguida e com o coração partido. Sou uma mulher madura. O ringue é a minha vida. Sempre fui muito instintiva. Quando sinto que algo não está certo, não é desistir, é ter a maturidade de parar – afirmou a atleta.
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