Com a saída da companhia aérea alemã Lufthansa do Rio Grande do Norte, empresa responsável pelo transporte semanal de frutas do Estado à Europa, os exportadores potiguares serão obrigados a levar suas cargas para Recife, Pernambuco, para dar continuidade às operações. Essa mudança na logística pode ter um impacto de até 100% no processo, segundo a Secretaria de Agricultura e Pesca do Rio Grande do Norte, e, consequentemente, diminuir as margens de lucro dos produtores. Os últimos voos feitos pela companhia, partindo do Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante, serão neste sábado (18). A partir da próxima terça-feira (21), a Lufthansa passa a operar a partir do Aeroporto Internacional de Recife (PE).
De acordo com o secretário de Agricultura e Pesca do RN, Guilherme Saldanha, o setor vê a saída com preocupação e espera que a mudança de ares da empresa alemã seja temporária, em virtude da pandemia de coronavírus. Além disso, com o aumento nos custos, ele avalia que o segmento agropecuário não vai “aguentar por muito tempo” essa rota alternativa para exportação de produtos potiguares.
“Temporariamente os exportadores vão mandar por Recife, mas não vão aguentar muito tempo esse frete de Natal até lá. Para se ter uma ideia, das áreas de produção ao aeroporto de Natal há uma distância de 200 a 250 km. Eles agora vão ter de andar algo próximo a 600 km”, comenta. O titular da pasta disse que teve reunião com membros do setor produtivo, que informaram o compromisso a ser honrado com os compradores de fora do Brasil pelos próximos meses, mas já externando a preocupação com os novos custos que terão de arcar.
“Acredito que não mais três, quatro meses, com o retorno dos voos, principalmente os da TAP, que vai para Portugal, que usa essa estrutura também, com certeza esse voo retornará para cá. A própria Lufthansa sinalizou dessa forma, que a operação pelo aeroporto de Recife, o custo para os exportadores é muito caro. O frete que custaria R$ 1,5 mil, R$ 2 mil, passa a custar quase R$ 5 mil”, comenta.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern), José Vieira, a saída da empresa alemã para o setor da fruticultura é vista com apreensão pelos produtores e a expectativa é de que essas operações voltem para o Rio Grande do Norte.
“Eu vejo com preocupação porque já somos tão vulneráveis a falta de logística e infraestrutura e perder mais uma oportunidade… Mas acreditamos que seja transitório, porque em função da dificuldade que o aeroporto está passando, a operadora que carrega os aviões está deixando de operar no RN. A carga nós temos, o avião também, o que não temos é o equipamento para carregar os aviões. Estamos trabalhando junto ao Governo para superar isso o mais rápido possível. Que seja transitório”, comentou.
O representante dos produtores agrícolas no RN, José Vieira, também cita frustração pela falta de estrutura logística ofertada pela concessionária que administra o aeroporto de São Gonçalo do Amarante. “Não deixa de ser uma grande perda, mas vejo com muita frustração o próprio aeroporto não conseguir ser viabilizado”, acrescenta. “É mais viável sair a fruta pelo RN do que qualquer outro Estado. Economicamente é viável, não é um negócio ruim para as empresas nem para os produtores. É bom para todos”, atesta.
Para o diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados, Luiz Roberto Barcelos, em entrevista ao Jornal da Manhã Natal, da rádio Jovem Pan News Natal 93.5, os principais produtos exportados do RN pela operação aérea são mamão e manga. Na avaliação dele, a saída “atrapalha futuros projetos” para exportadores no RN.
“Estamos pretendemos usar esse modal agora para exportar fruta para China, que é mais longe e o melão para chegar lá tem uma complicação de logística. Na prática a interrupção desse serviço traz um prejuízo pequeno para as atuais exportações. Um avião desses carrega 4, 5 contêineres por vez. Nós carregamos 500 lá no Porto de Natal. O que atrapalha são futuros projetos, porque tendo esse modal aéreo, os empresários poderiam desenvolver outras frutas, que não conseguem viajar de navio, e agora eles não poderão fazer mais esses planos no Estado e vão acabar fazendo em outro lugar”, disse.
Tribuna do Norte