BRASÍLIA — “Se eu renunciar, vocês têm alguma dúvida de que vou preso? E se eu for preso, vocês acham que vou sozinho?”. O diagnóstico seguido de ameaça foi feito pelo presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a um grupo de deputados dias após a decisão do Supremo Tribunal Federal determinar seu afastamento do cargo e do mandato. As colocações de Cunha aos aliados servem para ilustrar, em parte, o poder que ele continua a exercer sobre seus pares, e até mesmo sobre o governo do presidente interino Michel Temer.
A fidelidade de deputados a Cunha se justifica por motivos diversos. Vão desde o receio de serem expostos; passam pela dívida de gratidão por ele ter ajudado financeiramente em campanhas, dado relatorias de projetos importantes e por ter acatado o impeachment de Dilma Rousseff; e chegam até a amizade e sociedade em empreitadas.
Apesar da força que demonstrou na última semana, no Palácio do Planalto há a avaliação de que se acelerou o processo de perda de musculatura do deputado desde que ele foi afastado. E também que os atores que hoje atuam influenciados por Cunha passarão a pensar, cada vez mais, nas próprias histórias e respectivas sobrevivências. A tendência, para auxiliares do presidente interino, é que os “generais de Cunha”, como se referem aos deputados André Moura (PSC-SE), Jovair Arantes (PTB-GO), Rogério Rosso (PSD-DF) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), passem a se afastar do comandante da tropa.
— Na medida em que se estreita a possibilidade de Cunha voltar à Câmara, cada um desses aliados tem mais ganas de sentar na cadeira dele. Quando esse espaço for ocupado, a força dele perde pelo menos mais 50% da potência que já teve — afirma um interlocutor de Temer.
São esses “generais” os responsáveis pelo leva e traz de Cunha ao Planalto nos últimos dias. Segundo relatos de auxiliares de Temer, esses deputados fizeram todo o movimento para emplacar aliados de Cunha no governo. A operação começa na residência oficial da presidência da Câmara, onde Cunha vive e despacha diariamente, e que é frequentada pelos aliados como se de seu gabinete político se tratasse. Os deputados coletam as informações com o peemedebista e as levam ao Planalto e para os demais deputados de suas bancadas.
O Globo