O ministro da Economia, Paulo Guedes, partiu para o ataque contra o potiguar Rogério Marinho, ex-secretário especial de Previdência e Trabalho e atual ministro do Desenvolvimento Regional. Eles eram aliados.
Contrariado com o que chama de deslealdade, Guedes alertou Jair Bolsonaro e o ministro Braga Netto (Casa Civil) para o fato de que o programa Pró-Brasil não sairá do papel por causa do alto custo.
O ministro da Economia se indignou com as articulações de Marinho. Com a crise do coronavírus, o ex-parceiro de Ministério da Economia, responsável por coordenar as reformas trabalhista e previdenciária, passou a procurar colegas de Esplanada, especialmente militares. Nas conversas, Marinho dizia que “era hora da gastança”, em contraponto à política austera de Guedes.
Essa estratégia seria uma forma de estimular a economia em meio à crise do coronavírus. Guedes então se viu então duplamente traído. A gota d’água, no entanto, foi a proposta de Marinho. O ministro do Desenvolvimento Regional prevê 21 mil empreendimentos, a um custo total de R$ 185 bilhões até 2024.
Desse total, são R$ 157 bilhões em novas obras. A ideia seria complementar o Orçamento do Ministério do Desenvolvimento Regional em R$ 33 bilhões — dos quais R$ 7 bilhões a mais neste ano.
Para Guedes, a manobra seria uma tentativa de Marinho de se cacifar ao lado de Bolsonaro e militares. Estariam no horizonte, na visão dele, voos mais altos, como até tomar sua cadeira.
Por causa das divergências, Paulo Guedes tem sido considerado nos bastidores a “bola da vez” da fritura no governo. Interlocutores apontam que o ministro da Economia teve uma conversa ríspida com Rogério Marinho no Palácio do Planalto, acusando o ex-auxiliar de atrapalhar a atuação do Banco Central na crise e na política de juros.
O diálogo foi trocado quando os dois ministros, agora desafetos, se encontraram para o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, na sexta-feira (24), depois da demissão de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública. A desavença envolvendo o outro “superministro” do governo coloca mais lenha na fogueira da crise política que o presidente enfrenta.
O presidente estaria disposto a dar um “cavalo de pau” no seu governo e aposta no Plano Pró-Brasil, baseado em obras e investimentos com dinheiro público, para recuperar o País na fase pós-pandemia. Essa mudança de rumo envolve ainda a aproximação com parlamentares do Centrão, bloco informal do Congresso que não gosta de Guedes e defende o aumento dos gastos públicos.
Nos bastidores, a área econômica vê uma articulação de Marinho com parlamentares para colocar em Guedes o carimbo de insensível com os pobres. O ministro da Economia tem rebatido as críticas ao dizer a interlocutores que partiu dele próprio a ideia de criação do auxílio emergencial aos trabalhadores informais, combinando com presidente para subir o valor e chegar aos R$ 600.
Para analista político, projeto de potiguar é uma “fantasia”
Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo neste domingo (26), o jornalista e escritor Elio Gaspari classificou o projeto defendido por Rogério Marinho como uma “fantasia”.
O analista escreveu que, com o Pró-Brasil, o projeto neoliberal de Paulo Guedes foi atingido por um “meteoro”.
“Para um ex-aluno da Universidade de Chicago, Guedes vive um pesadelo ao ouvir gente dizendo que o Pró-Brasil é um Plano Marshall. Quem acha isso confunde guindaste com girafa. (…) Noutra analogia, o programa seria comparável ao New Deal americano dos anos 1930 do século passado. Para isso, seria necessário colocar no mesmo pódio Jair Bolsonaro (que extinguiu o Ministério do Trabalho) e o presidente Franklin Roosevelt, que redesenhou as relações trabalhistas. Quem quiser brincar de New Deal em Pindorama deve saber que o presidente americano criou uma Previdência Social que ampara todos os cidadãos. Aqui há 40 milhões de invisíveis”, afirmou Gaspari.
Segundo o escritor, o “Pró-Brasil é um neto torto do II Plano Nacional de Desenvolvimento, de 1975”. “Quando perguntaram ao então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, o que ele achava do PND, publicado num livrinho de capa azul, ele foi breve: ‘Não leio ficção’. Ninguém se incomodou porque sabia-se que era verdade”, concluiu.