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Cerca de 70% dos corais de fogo da costa norte do RN morreram nos últimos cinco anos, aponta pesquisador

FOTO: JESSICA BEUEL

Uma das principais barreiras de corais da costa do Rio Grande do Norte enfrenta riscos como o desaparecimento de espécies. Cerca de 70% dos corais de fogo que existiam na região entre os municípios de Rio do Fogo, Touros e Maxaranguape, morreram nos últimos cinco anos, de acordo com o pesquisador Guilherme Longo, que estuda a vida marinha na região.

A região faz parte da Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC), que tem 1.360 quilômetros quadrados monitorados pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema).

Outros animais da área, como o peixe budião azul – comum em áreas de recifes corais, praticamente não são mais vistos na região.

O aquecimento do oceano é o principal fator de enfraquecimento dos recifes de corais na costa potiguar, mas as ações diretas do ser humano, como o turismo desordenado, também intensificam o processo e causam preocupação às autoridades locais.

Os recifes de corais são considerados as florestas do oceano. São habitats de muitas espécies, algumas delas com alto risco de extinção, além de importantes atrações turísticas e inclusive fonte de pesquisas para produção de medicamentos.

De acordo com o biólogo e professor Guilherme Longo, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), os recifes de corais da costa potiguar passaram por pelo menos dois processos de branqueamento nos últimos cinco anos: um em 2020 – mais forte – e outro em 2024.

O branqueamento é sinal de que algo está errado: ele acontece quando a água do mar está mais quente.

O pesquisador aponta que o processo é natural, causado pelas ondas de calor da água do oceano – assim como acontece na terra – porém tem se tornado cada vez mais frequente, deixando menos tempo de recuperação dos corais.

“Essas ondas de calor aconteceriam naturalmente uma vez a cada 10 anos, ou uma vez a cada 15, mas, como o ser humano está contribuindo muito nas mudanças climáticas, isso está acontecendo a cada dois anos ou, às vezes, até anualmente”, disse o pesquisador.

A coloração dos corais é causada pela presença de microalgas, com as quais eles se “associam”. As microalgas ficam protegidas dentro no tecido do coral e, em contrapartida, dividem com ele a energia que produzem por meio da fotossíntese. “Grande parte na nutrição do coral vem dessas algas”, diz Guilherme Longo.

Porém, quando a água do mar esquenta, o processo de fotossíntese aumenta, causando a presença de muito oxigênio, o que causa o estresse oxidativo.

“É igual quando a gente coloca água oxigenada no lugar machucado que dá aquela ardida. Começa a acontecer isso dentro do coral. Então o coral expulsa essas algas. Por isso ele fica transparente e a gente vê o esqueleto branco através do tecido”, afirma o pesquisador.

De acordo com o professor, o processo é grave porque a maior parte da nutrição dos corais vem das algas e, portanto, eles ficam com fome e suscetíveis a doenças e outros riscos. “É um período muito frágil pros corais”, complementa.

O branqueamento dos corais também atinge outros estados da costa brasileira, como Pernambuco e Alagoas.

Corais de fogo são os mais afetados

Após o período de aquecimento, os corais podem se recuperar e voltar a receber as algas, porém, muitos não resistem.

É o caso do coral de fogo – o Millepora alcicornis – um coral ramificado, com formato de “árvore”, que dá muita complexidade pros peixes se esconderem.

“É um dos primeiros a ficar branco, perto de 100% da população branqueia e cerca de 95% infelizmente não resiste. Então essa é uma espécie que a gente via bastante e agora infelizmente quase não vê”, diz Guilherme Longo.

Por outro lado, o coral estrela – Siderastrea stellata – o mais abundante e principal construtor dos parrachos na região de Touros, Rio do Fogo e Maracajaú, chega a registrar um branqueamento de cerca de 95% da população, mas a taxa de mortalidade fica abaixo de 5%.

O branqueamento ocorre com o aumento da temperatura da água, que sai da média de 28º C e, por vezes, chega aos 32º C. Segundo o professor da UFRN, os corais da região de Touros, Rio do Fogo e Maxaranguape são os mais afetados, pois estão em águas rasas, mas em 2020 os pesquisadores chegaram a encontrar branqueamento em corais a 30 metros de profundidade.

No ano passado, os pesquisadores identificaram o pico de temperatura entre março e maio. Os primeiros sinais de recuperação dos corais foram vistos em julho, mas o sistema só se estabilizou completamente em setembro.

G1RN

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