Um fenômeno curioso vem acontecendo no mercado de veículos desde o ano passado: a supervalorização de usados. Um dos motivos, a princípio, é a alta dos preços dos veículos novos, impulsionada pela falta de componentes como semicondutores e peças em geral. Já tem montadora até parando a produção por causa do agravamento do problema. Isso, em síntese, provoca o desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
“A alta do carro zero-km acaba, também, puxando o usado para cima. Não na mesma proporção, é fato, mas é uma situação comum. Hoje, por exemplo, tabela Fipe não é referencial. Tem revenda, afinal, negociando carro acima do preço”, afirma Paulo Garbossa, consultor da ADK Automotive e especialista no setor.
De acordo com ele, isso acaba aquecendo o mercado de usados. Embora alguns modelos zero-km estejam até mais baratos, o imediatismo da compra acaba empurrando o consumidor para os seminovos. Ou seja, por não querer enfrentar longas filas de espera para adquirir um modelo novo (que podem passar de seis meses, dependendo do modelo e cor do veículo escolhido), o cliente acaba indo para os usados, que, neste contexto, acabam se valorizando.
A Kelley Blue Book (KBB), multinacional do setor de avaliação de veículos, realizou um levantamento que comprova ocorrência de carros seminovos sendo vendidos com preços acima dos modelos equivalentes zero-km. Conforme apontam os dados coletados neste mês, a Fiat Strada 2021 seminova pode ser vendida, em média, até 3,37% mais cara do que um modelo novo equivalente.
O estudo contempla os dez veículos mais vendidos do mercado brasileiro, de acordo com o ranking da Fenabrave, associação que reúne concessionários do País. Tomando como base os valores referentes ao estado de São Paulo, metade da lista observada apresenta essa tendência de inversão de valorização dos seminovos frente aos zero-km.
“Não é uma boa hora para comprar carro. Mas, se o cliente precisar, de fato, de um veículo, dá para garimpar o mercado de zero-km e encontrar outras opções de modelos, cores e marcas. Tem montadora que continua com estoque. É só procurar que acha!”, enfatiza Garbossa. Para ele, em síntese, a situação deve normalizar em breve. Uma data exata, entretanto, impossível precisar.
Estadão