O secretário de desenvolvimento econômico, Jaime Calado, convocou as sete Câmaras Setoriais e Temáticas do RN para discutir o futuro do armazenamento de energias renováveis no estado. A reunião extraordinária, que ocorreu nesta quinta-feira (19) de forma virtual, contou com mais de setenta participantes e apresentações de especialistas sobre um projeto para armazenamento gravitacional e sobre a produção de hidrogênio verde.
“Essa é a primeira vez que discutimos esse assunto aqui em larga escala”, anunciou o secretário Jaime Calado, referindo-se à discussão sobre armazenamento em massa de energia limpa. O titular da Sedec convidou o empresário João de Deus para falar de seu projeto de armazenamento em torres de concreto, uma solução inovadora que vem sendo debatida no mundo inteiro, tendo em vista que o armazenamento em larga escala é o próximo grande passo para a consolidação da indústria de renováveis.
De acordo com o empresário, até 2050, mais de 10 trilhões de dólares serão investidos no mundo em tecnologias de armazenamento de energia, em um esforço mundial de descarbonização. João de Deus é CEO da EV Brasil e propõe instalar no RN um projeto piloto para uma das principais tecnologias do futuro nesse quesito: o Energy Vault transforma a energia captada em usinas eólicas e solares em energia cinética gravitacional.
O sistema utiliza guindastes para empilhar blocos de concreto, formando torres de 120 metros de altura, e, com a ajuda de um motor, converte a energia elétrica em energia cinética, potencializada pela gravidade. A torre é montada e desmontada em um movimento constante de subida e descida dos blocos, armazenando a energia sem a necessidade de baterias e sem gerar resíduos nocivos ao meio ambiente.
O representante da EV Brasil falou da experiência da companhia no ramo e argumentou sobre a urgência da implementação de tecnologias desse tipo no país. “A gente está atravessando uma crise climática que só tende a piorar, e a gente está vendo os reflexos disso nos últimos meses: os reservatórios das hidrelétricas do sul e sudeste estão em níveis nunca vistos de tão baixos e a tendência é que isso se repita nos próximos anos. Então, o pulmão de armazenamento de energia dessas hidrelétricas está comprometido”, explicou.
Outro desafio que a tecnologia ajuda a superar é a distância de transmissão entre os estados, já que a energia pode ser estocada e deslocada sob demanda para diferentes regiões do país. O fornecimento de energia também não ficaria preso aos horários de pico de captação, podendo ser armazenados e entregues nos momentos de maior consumo. Todos esses fatores contribuem para solucionar questões importantes no que diz respeito à geração por fontes renováveis, considerando que a captação solar e eólica, por exemplo, estão sujeitas a condições ambientais.
A segunda apresentação do dia foi realizada pelo pesquisador Prof. Mario González (UFRN), que falou sobre os avanços do hidrogênio verde no mundo, considerado o “combustível do futuro”. Segundo o professor, o RN tem capacidade para ser um dos principais fornecedores de hidrogênio verde do planeta, com previsão de menor custo de produção mundial. Ele explicou o processo de obtenção desse recurso, que pode vir a substituir os combustíveis fósseis no transporte, por exemplo, em um futuro próximo.
“O processo separa as moléculas de hidrogênio e do oxigênio por meio da eletrólise, onde temos como matéria prima a água e como produto o hidrogênio”, informou. “É verde porque essa energia elétrica vem de uma fonte renovável”, esclareceu González. Segundo ele, o potencial para a geração eólica offshore (no mar) do Rio Grande do Norte torna o estado ideal para essa produção.
O secretário Jaime Calado enfatizou que foi criado um grupo de trabalho, no âmbito da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e que tem a frente o pesquisador Mario González, para agilizar a implementação de plantas eólicas offshore no RN. Ele explicou que a produção de hidrogênio verde e o armazenamento de energias renováveis em larga escala tornaram-se também pautas prioritárias. “Nós do governo Fátima Bezerra estamos fazendo de tudo para tornar o Rio Grande do Norte um polo produtor de energia limpa e renovável”.