Os primeiros voluntários para os testes da vacina do Instituto Butantã contra a dengue receberam as doses nesta quinta-feira, 23, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) esteve na cidade para dar início aos testes. As 1,2 mil pessoas selecionadas receberão a vacina na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Toninho. Elas serão acompanhadas durante cinco anos. Na próxima semana, os testes serão iniciados em centros de pesquisas de Manaus (AM) e Boa Vista (RR).
Na chegada, Alckmin enfrentou protestos de servidores do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), que estão em greve por aumentos salarial. Na solenidade, ele referiu-se ao início do testes como um dia histórico. “Não temos no mundo uma vacina com grau de proteção elevado contra os quatro tipos de vírus. O Instituto Butantã já fez o teste pré-clínico e das fases um e dois e agora estamos na última fase”, disse.
A cidade escolhida para os testes com a vacina no Estado de São Paulo tem índices altos de dengue. Rio Preto registrou 22 mil casos em 2015 e, de janeiro a maio deste ano, outros 11.395, além de 4.284 em investigação. Doze pessoas morreram com a doença. Os efeitos da vacina nos pacientes serão avaliados por pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), com a colaboração da Secretaria Municipal de Saúde.
Os testes em humanos são a última fase da pesquisa antes da aprovação da vacina para produção em larga escala visando a atender campanhas de imunização em massa na rede pública de saúde. Ao todo, serão mobilizados 17 mil voluntários em 14 centros de pesquisas de 13 municípios brasileiros. Os ensaios clínicos desta fase foram iniciados em fevereiro deste ano pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo.
Os voluntários, que nunca tiveram a doença, estão divididos em três faixas etárias: 2 a 6 anos, 7 a 17 e 18 a 59. Os participantes serão acompanhados pela equipe médica por um período de cinco anos para verificar a duração da proteção. Os testes também serão realizados em Porto Velho (RO), Aracaju (SE), Recife (PE), Fortaleza (CE), Brasília (DF), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS).
A vacina do Butantã foi desenvolvida em parceria com o National Institutes of Health (EUA) e tem potencial para proteger contra os quatro vírus da dengue com uma única dose, produzida com vírus vivos, geneticamente atenuados.
Nesta etapa da pesquisa, os estudos visam a comprovar a eficácia da vacina. Do total de voluntários, um terço receberá placebo, uma substância com as mesmas características, mas sem o vírus. Nem a equipe médica, nem os voluntários saberão quem recebeu o placebo. O objetivo visa a garantir a total isenção dos testes.
Nas etapas anteriores, a vacina foi testada em 900 pessoas, nos Estados Unidos e em São Paulo. O Butantã tem uma fábrica com capacidade para produzir 500 mil doses por ano, mas que pode ser ampliada para produção de até 12 milhões de doses por ano com algumas adaptações. O Instituto tem projeto para construir uma fábrica de larga escala, com capacidade de 60 milhões de doses ao ano.
Custo
O Brasil já tem uma vacina contra a dengue registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas seu uso ainda depende da definição do preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), órgão interministerial do governo federal. A vacina da Sanofi Pasteur protege contra os quatro sorotipos da doença, mas exige três aplicações.
A empresa francesa anunciou nesta quinta que o Ministério de Saúde da Costa Rica aprovou a vacina, também registrada no México, El Salvador e Filipinas.
José Maria Tomazela