O controverso documentário Democracia em Vertigem perdeu o Oscar neste domingo. A estatueta foi para Indústria Americana, que concorria ainda com The Cave, Honeyland e For Sama. O filme tem nos créditos coprodução do casal Barack e Michelle Obama. Julia Reichert, diretora do documentário, citou o Brasil em seu discurso de agradecimento. “Vimos entre os indicados histórias de lugares como o Brasil, Síria, Macedônia. Nos sentimos inspirados por vocês. Nosso filme é sobre Ohio e China, mas poderia ser de qualquer lugar, contando a história de pessoas que usam um uniforme, em busca de dar às suas famílias uma vida melhor.”
Democracia em Vertigem
Nos meses que antecederam o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, em abril de 2016, o Congresso Nacional viveu o tumulto natural de um impeachment. Em meio à algaravia, deputados e senadores tinham de lidar com uma tensão adicional: a presença de equipes de documentaristas.
Vários produtores competiam por material para diferentes filmes sobre o processo que mudaria o rumo do país. Mas quem se destacava era uma moça inquieta — e obsessiva: a cineasta mineira Petra Costa. Ela enlouquecia os políticos e até sua equipe com determinações como gravar na íntegra as sessões do impeachment.
Lançado pela Netflix em 190 países em junho passado, Democracia em Vertigem provocou de imediato reações extremadas por aqui. Os apoiadores de Lula e de Dilma sentiram-se de alma lavada: o filme é o lamento de uma mulher que viu os sonhos políticos de sua geração (Petra hoje tem 36 anos) desabar com a derrocada do PT. O enredo corrobora a versão, tão alardeada pelo partido, de que o impeachment “foi golpe”. No lado oposto ficaram aqueles que enxergaram no impeachment a libertação do país da corrupção sistêmica dos doze anos do PT, exposta pela Operação Lava-Jato. Para essa massa de brasileiros, Democracia em Vertigem é um exercício vitimista apoiado numa visão convenientemente ilusória dos fatos.
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