
Em discurso na Avenida Paulista nesse domingo (6), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anistia aos presos pelos atos de 8 de janeiro de 2023 e criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-presidente reclamou ainda de estar inelegível por ter “se reunido com embaixadores”. Afirmou que eleição em 2026 “sem Jair Bolsonaro é negar a democracia, é escancarar a ditadura no Brasil”.
Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou Bolsonaro à inelegibilidade por 8 anos por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, por causa de evento no Palácio do Alvorada em que acusou fraude no sistema eleitoral.
Na Paulista, o ex-presidente disse ter esperança de concorrer em 2026, principalmente em função de articulações do filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que em março se licenciou do mandato de deputado federal para morar nos Estados Unidos.
“Tenho esperança que de fora venha alguma coisa para cá”, afirmou. Jair Bolsonaro ressaltou que Eduardo “tem contato com pessoas importantes do mundo todo e está lá nos Estado Unidos”, mas sem dar detalhes.
No entanto, é sabido que Jair Bolsonaro aposta em um apoio do presidente norte-americano, Donald Trump, e de parlamentares republicanos, que já fizeram declarações contra o judiciário brasileiro.
Ainda na Paulista, Bolsonaro atacou Alexandre de Moraes, dizendo que o ministro do STF usa avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para assistir jogo de futebol, referindo-se à ida do magistrado a São Paulo para assistir à partida do Corinthians.
Bolsonaro volta a dizer que deixou o país para não ser preso
A mobilização foi convocada por Bolsonaro e aliados, incluindo o pastor Silas Malafaia, depois da realizada na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em março, que teve público aquém do esperado.
Assim como havia dito na manifestação de Copacabana, Bolsonaro afirmou que teria sido preso se não tivesse saído do país em dezembro de 2022, dois dias antes do término do seu mandato, quando foi para os Estados Unidos.
“O golpe deles só não foi perfeito porque no dia 30 de dezembro teria sido preso no Brasil e estaria apodrecendo na cadeia ou quem sabe assassinado por essas pessoas que botaram esse vagabundo na presidência”, afirmou Bolsonaro.
Ao mesmo tempo em que criticou o STF, que acusa de persegui-lo politicamente, o ex-presidente ressaltou a recente decisão da Corte de arquivar o inquérito sobre a fraude nos cartões de vacinação contra Covid-19.
Em diversos momentos, Bolsonaro atacou o governo de Lula e os petistas. O ex-presidente disse que não é igual aos adversários, que não roubou. Garantiu que não vai deixar o país.
“Eu estou no caminho deles. Se acham que vou desistir, fugir, estão enganados. Fiz juramento e cumpro: defender minha pátria com sacrifício da própria vida. O que os canalhas querem é me matar”, disse.
Antes do ato na Paulista, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que Bolsonaro é um “fenômeno” e que ,apesar da inelegibilidade do ex-presidente, ele é o único candidato nas eleições de 2026.
“Queremos anistia. Vamos trabalhar para isso. É por isso que estamos fazendo esses encontros. Primeiro nós precisamos ver como é que fica a situação do Bolsonaro. Mas eu tenho certeza que o Bolsonaro vai ser candidato. Tenho certeza”, ressaltou.
Sóstenes diz que pressão sobre Motta aumentará
A anistia é prioridade para a oposição, mas o projeto de lei que trata sobre o tema está travado na Câmara dos Deputados. Caso seja aprovado, ele pode beneficiar o próprio Bolsonaro e integrantes do seu governo, denunciados por tentativa de golpe de Estado.
O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante, afirmou que a legenda espera ter, até a quarta-feira (9), as assinaturas necessárias para pautar o regime de urgência do projeto de lei da anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro.
“Com a ajuda (dos governadores) Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e Wilson Lima esperamos ter as 257 assinaturas necessárias Aí, será pautado querendo ou não”, bradou Sóstenes em cima do trio elétrico.
A bancada do PL tenta pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a receber e colocar em votação um requerimento de urgência à proposta.
No entanto, Motta não sinalizou publicamente qualquer disposição em levar o tema adiante. O presidente da Câmara teme que, caso acate o pleito da oposição, crie uma indisposição com o Palácio do Planalto e o STF.
Conforme pesquisa Quaest divulgada neste domingo, 56% dos entrevistados defendem que os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro devem continuar presos por mais tempo cumprindo suas penas. Já 34% acham que eles nem deveriam ter sido presos ou já estão presos por tempo demais.
O STF aceitou, no último dia 26, denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que acusa Bolsonaro de ter liderado organização criminosa envolvida em trama golpista. Além dele, outros sete aliados também se tornaram réus.
Mais de 500 pessoas já foram condenadas pelo STF pelos atos de 8 janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram invadidas e depredadas por pessoas que queriam derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As penas variam de três a 17 anos de prisão pelos crimes de tentativa de abolição do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa e deterioração de patrimônio público.
Batom vira símbolo por causa de cabeleireira
Na Paulista, manifestantes exibiam batons em diferentes espaços, como camisetas e cartazes, em referência à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou de batom uma estátua em frente ao STF e foi condenada a 14 anos de prisão por participar do movimento que pedia intervenção militar.
Em seu discurso, Michelle Bolsonaro chamou religiosos ao carro de som para dizer que todos ali defendem a anistia. Ela pegou um batom e disse que Débora Rodrigues é o “símbolo da luta pelo Brasil”.
“Hoje, a nossa Débora, uma mulher comum, cabeleireira, se torna símbolo da luta pela justiça no nosso Brasil”, afirmou a ex-primeira-dama. Ela pediu que as mulheres empunhassem seus batons e convidou ao trio a filha de uma presa do 8 de janeiro.
“Luiz Fux, eu sei que o senhor é um juiz de carreira e o senhor não vai jogar o seu nome na lama. Nós temos aqui, a Adalgiza, de 64 anos, que está doente. Não deixa a Adalgiza morrer, Luiz Fux”, disse Michelle, se referindo ao ministro do STF, que já declarou no STF que as penas impostas poderiam ser revistas.
Em cima do trio, Michelle também chamou três dos filhos de Jair Bolsonaro, o senador Flávio e os vereadores Carlos e Jair Renan, para abraçar o pai no palco.
Ela falou do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que se licenciou da Câmara e anunciou um autoexílio nos Estados Unidos em março. “Força, Eduardo”, disse Michelle.
Jair Bolsonaro também citou o filho em seu discurso. “Hoje faltou um filho meu aqui. O 03. Fala inglês, espanhol e árabe. Tem contato com pessoas importantes lá nos Estados Unidos.”
Tarcísio diz que condenados pelo 8 de janeiro só ‘estavam conhecendo Brasília’
Ao todo, 10 pessoas foram escaladas para discursar. Entre elas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que citou a alta dos preços de alimentos para defender a volta de Bolsonaro à Presidência da República.
Tarcísio disse ainda que a anistia é uma “pauta política, humanitária e urgente” e serviria para “pacificar” o país. “Pedir anistia não é uma heresia, é algo justo, real e importante”, afirmou.
“Temos urgência porque precisamos pacificar o Brasil. Olhar para frente e discutir o que interessa. Estamos perdendo o bonde. Temos que pensar no nosso crescimento. Por que a inflação está tão cara? Por que vocês estão pagando caro no ovo? E se está tudo caro, volta Bolsonaro”.
O governador alegou que os condenados pelos atos de 8 de janeiro são “pessoas que estavam vendo o que acontecia, conhecendo Brasília” na data em que houve a invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes.
No fim do discurso, Tarcísio se dirigiu diretamente a Bolsonaro: “O senhor faz falta e a injustiça não vai prevalecer. Tenho certeza que o senhor vai voltar para trazer esperança para estas pessoas”. Em seguida, pediu o coro “volta, Bolsonaro”.
Também participam do ato na Paulista os governadores Romeu Zema (Minas Gerais), Jorginho Mello (Santa Catarina), Ratinho Júnior (Paraná), Ronaldo Caiado (Goiás), Mauro Mendes (Mato Grosso) e Wilson Lima (Amazonas).
Tarcisio, Zema, Jorginho e Ratinho são cotados como nomes da direita para a disputa ao Planalto em 2026. Caiado se lançou pré-candidato na última sexta (4). Mesmo inelegível até 2030, Bolsonaro ainda se coloca na corrida.
Caiado condena atos de 8 de janeiro, mas diz que penas são altas
Pouco antes do início dos discursos na Paulista, Ronaldo Caiado afirmou que os atos de 8 de janeiro são indefensáveis, mas que as penas aplicadas aos participantes são pesadas demais.
“O sentimento é nacional, de promover anistia a essas pessoas que praticaram, sim, aquela prática indefensável no dia 8 de janeiro, mas que não merecem também a pena na proporção que está sendo dada. É isso que estamos buscando: justiça”, disse.
Já Cláudio Castro cancelou a participação no ato em São Paulo por causa das chuvas fortes no Rio. “Eu já estava programado, mas por causa de todo o acontecido no Rio, não tenho como sair nesse momento”, disse em vídeo divulgado nas redes sociais.
Nikolas chama Moraes de ditador e covarde
Já o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que criticou o STF e chamou os ministros de “ditadores de toga”.
“Ditadores de toga, principalmente como Alexandre de Moraes, que se utilizaram do dia 8 para nos amedrontar. Se lascou, olha a gente aqui. Essa é a resposta para você, seu covarde”, afirmou.
“E digo mais, fizeram de tudo para poder massacrar a maior liderança política deste país, que é o Bolsonaro. Digo e repito: se lascou!”, prosseguiu o parlamentar.
Depois, o deputado mineiro criticou o presidente da Suprema Corte, Luís Roberto Barroso.
“Para o debochado do ministro Barroso, que falou ‘perdeu, mané’, primeiro, que isso é fala de bandido quando vai roubar alguém, O que você está querendo dizer com isso Barroso? Que as eleições de 2022 nós fomos assaltados? Porque, se for isso, fique em paz, que daqui um ano e meio tem eleições de novo”.
O Tempo