A ação desencadeada por um ex-assessor do Ministério Público do Rio Grande do Norte, acusado de atentar contra a vida do procurador-geral do Estado, Rinaldo Reis, e atirar no procurador-adjunto Jovino Sobrinho e no promotor de Justiça Wendell Beetoven, remete a algo mais do que o episódio policial em si.
O ato extremo, protagonizado pelo servidor público Guilherme Wanderley Lopes da Silva, pode sinalizar que já passou da hora de a instituição rever a sua relação entre chefias e colaboradores.
O episódio e o conteúdo da carta escrita, de forma desconexa pelo atirador, deixam dúvidas de até que ponto é saudável o ambiente de trabalho no MP/RN.
Será que o autoritarismo, interesse político e o subjugo de colaboradores que eventualmente existam no órgão, não estariam afetando as relações de trabalho e criando um ambiente nocivo, capaz de gerar distúrbios psicossociais?
É preciso o MP/RN fazer a sua mea culpa e verificar se na Instituição a imagem de Líderes cedeu lugar às figuras de Chefes, temidos pela equipe e não respeitados.
A característica do chefe temido é única – ele vê as pessoas como subordinadas, é perseguidor, joga a culpa dos fracassos nos colaboradores, faz questão de apontar os erros de cada um e, quando um objetivo é alcançado, se vangloria sozinho. Além disso, não se preocupa em motivar, pois acredita que realizar um bom trabalho é obrigação dos funcionários.
Será esta a receita nefasta que estaria temperando as relações de trabalho no MP/RN, a ponto de fazer com que o exercício profissional deixe de ser um veículo de prazer e dignidade, e passe a ser um elemento somatizador de castigo e sofrimento do ser humano.
Além de criminosa, é reprovável, abominável e inexplicável a atitude alucinada de Guilherme Wanderley Lopes da Silva, que tentou, felizmente sem sucesso, tirar a vida de três colegas de trabalho, todos eles cidadãos de bem e pais de famílias.
No entanto, o culpado também pode ser, ao mesmo tempo, vítima do stress em um ambiente pesado de trabalho, o que geralmente conduz o colaborador a um sentimento de opressão e de baixa autoestima.
O episódio, apesar da dura e cruel realidade que está sendo vivenciada pelas vítimas, pelo atirador e familiares das partes envolvidas, externa a necessidade e proporciona a oportunidade de o Ministério Público do Rio Grande do Norte verificar o que há de errado nas relações interpessoais da instituição.
Na mitologia grega, muitas vezes, até mesmo os Deuses do Olimpo desciam à terra para conviver com os simples mortais.
No episódio no MP/RN, -vale lembrar- onde há fumaça, há fogo.
9 Comentários
Excelente texto. Um funcionário com vida pregressa exemplar chegar a cometer um desatino deste é salutar investigar o que existe por trás da máscara do MP.
Dito popular mais que pertinente: Onde há fumaça, há fogo.
E o Sr. Rinaldo Reis dizer que nada existia contra o funcionário quando da exoneração ser citada um ato do dia 13/03/2017?
Texto perfeito. Todos os parágrafos.
Texto para reflexão de todos que estão à frente de cargos de chefia. Esse servidor estava com certeza sofrendo de alguma pressão psicológica forte por parte daqueles que se acham acima de tudo e de todos. Isso não o exime da culpa, mas fica o recado para os demais que virão a ocupar esse cargo que tratar os outros com respeito e dignidade é premissa para todo chefe.
Esse texto reflete os bastidores do funcionalismo público,realmente,a atitude do funcionário remete a um estado de stress elevado.”Onde há fumaça há fogo”.
De toda tragédia, é bom que os envolvidos retirem lições e aperfeiçoem sua vivência, é assim que crescemos como ser humanos.
Porém, não se deve diminuir em nada a conduta nefasta praticada pelo atirador, pois não há ambiente de trabalho ruim que dê direito a alguém tirar a vida de seu semelhante. Se o ambiente é inóspito, há meios legais e administrativos para que providências de melhoria sejam adotadas.
Não se pode, em momento algum, imputar às relações entre membros e servidores do MP como causa à atrocidade cometida, pois posso garantir que o ambiente no MP é muito melhor do que em inúmeros e grande maioria dos locais de trabalho, sejam públicos ou privados. Há conforto, bons salários e bons instrumentos para se trabalhar e pessoas maravilhosas com quem se relacionar. Há chefes ruins? Sim. Há quem se ache acima do bem e do mal? Há, e não são só “membros”, são “integrantes” que querem cada vez mais privilégios também. Precisamos combater isso de forma legítima, sabendo os direitos de cada um. Repito, o ambiente no MP é muito melhor que em outros locais
Texto oportuno! Há que se rever as maneiras de chefiar, sem abusos de poder!
Veja o que publiquei no meu face complementando a sua matéria exemplar .samiatatiana/Assistente Social/Perita Judicial
Eu fui servidor do Ministério Público e fui vítima de severo assédio moral por parte de dois membros da instituição que me deixaram emocionalmente muito abalado. É hora de para a blindagem feita em favor de verdadeiros tiranos