* Gabriella Pereira do Nascimento
A palavra ludicidade não tem ainda definição etimológica bem definida, todavia muitas pesquisas apontam sua origem partindo do Latim “ludus” que significa jogo, brinquedo, brincadeiras. Neste sentido, pode ser observado em diversos contextos, seja ele na prática do brincar como ação recreativa, ou mesmo no brincar como proposição pedagógica para alcançar um objetivo sugerido.
Levando em consideração que as crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer vivem nesse momento um evento traumático e precisam conhecer, compreender e ressignificar o espaço hospitalar e a nova situação de vida, a atividade lúdica, nesse contexto, auxilia o sujeito a expressar seus sentimentos, emoções, desejos, medos e angústias. Dessa maneira, alivia os momentos de ansiedade e estresse ocasionados pelo estado de adoecimento, ressignificando através do jogo as experiências difíceis vivenciadas.
Tendo em vista que uma das metas do atendimento educacional realizado nas classes hospitalares precede o resgate da autoestima dos alunos e o favorecimento da construção da subjetividade, além de assegurar a continuidade na relação aluno-aprendizagem, socialização e interação, o uso da ludicidade é base forte na proposição de atividades com crianças e adolescentes em processo de adoecimento e tratamento médico.
Na classe hospitalar da Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva, por exemplo, o trabalho com o viés lúdico permeia todas as atividades educativas. Ao iniciar o tratamento oncológico, a rotina de vida da criança passa por uma diversidade de mudanças que acarretam em muitas perdas. Perda da rotina, do acesso à escola, da brincadeira com os amigos, da vivência com seus familiares e, principalmente, das atividades inerentes à infância, como o brincar. Neste sentido, são realizadas na instituição atividades que permeiam a ludicidade através de jogos, música, teatro, brincadeiras, oficinas de desenho, passeios, dentre outras.
O uso das atividades lúdicas permite ainda ao professor hospitalar abrir espaço para iniciar uma relação mais próxima com seu aluno. Cria condições para que esta seja constituída com segurança e afetividade, necessárias a prática docente nesse contexto, visto que um dos papeis do professor é mediar a relação do aluno com aquela nova vivência, considerando que ele é um referencial de rotina prévia ao tratamento, afinal, toda criança e adolescente em idade escolar, reconhece a função e as práticas executadas na escola.
Assim, com esse estreitamento de laços entre o professor e o aluno, a transmissão de conteúdos torna-se mais “leve” diante de uma rotina cheia de procedimentos e protocolos inerente ao tratamento. Também assegura o acesso a educação de forma significativa, permitindo que o aluno se desenvolva tanto nos aspectos cognitivos, quanto motores. Além disso, possibilita a interação e socialização através do brincar, favorece a imaginação, o desenvolvimento da linguagem, provoca a criatividade, estimula o pensamento e a concentração, possibilitando que o aluno/paciente continue, dentro das possibilidades a realizar atividades inerentes a esta fase da vida, a infância.
* Coordenadora Pedagógica – Casa Durval Paiva