“A gente sabe que, se investir na Bolsa de Valores hoje, daqui a dois anos a gente vai conseguir multiplicar esse dinheiro”. A frase que você acabou de ler poderia ser atribuída a um dos executivos do mercado financeiro, a um economista ou até mesmo a um contador. Mas ela foi dita por uma adolescente de 14 anos, durante uma conversa na sala de aula. Emily de Oliveira Ferreira é aluna do 9º ano da Unidade II do Colégio Ciências Aplicadas, em Natal. O conhecimento dela sobre esse assunto foi construído durante os últimos seis meses numa disciplina até então inédita aqui na capital, a BoVa – Bolsa de Valores.
Os alunos do último ano do Ensino Fundamental II receberam, durante os dois primeiros bimestres do ano letivo, conhecimentos teóricos sobre o universo do mercado financeiro. Aprenderam o que é uma ação, o passo a passo de uma empresa para vender suas ações e como qualquer pessoa pode se tornar um investidor. Agora, os estudantes entraram na parte prática. Com a ajuda de um programa de computador que simula a Bolsa de Valores, eles estão aprendendo, na prática, como funciona o sobe o desce do mercado. Cada um deles ganha R$ 100 mil fictícios que são usados na compra de ações. A matéria é atrelada a disciplina de matemática e vai compor a nota final dos estudantes. A avaliação será proporcional ao resultado financeiro que o aluno vai ter. “Com a BoVa, eles aprendem várias lições, como gráficos, função de primeiro grau e médias móveis. Além disso, é uma forma deles ficarem atentos, desde cedo, a administrar o dinheiro de uma forma responsável”, disse o professor de matemática João Marcelo Oliveira, que também é aluno do curso de Economia da UFRN.
O professor Alexandre Pinto, sócio-diretor do Colégio Ciências Aplicadas, foi quem teve a ideia de implantar o conhecimento sobre a Bolsa de Valores na grade de ensino. Segundo ele, fazer os alunos se interessarem por um assunto, muito vezes tratado como complexo, é uma forma de estimulá-los a “pensar fora da caixinha” e agregar novos conhecimentos. “Foi um sonho que eu tive, projetei, planejei e treinei os professores. Esse é um treinamento único na vida desses alunos, que vão crescer aprendendo lições sobre responsabilidade, disciplina, organização financeira. É o ensino do futuro que acontece no presente aqui em Natal”, arrematou.
Durante a aula, a empolgação dos adolescentes salta aos olhos. Eles formam duplas, abrem o computador e ficam simulando as melhores estratégias para a compra de ações. Alguns, trocam experiências com outros colegas, comentam sobre o lucro ou prejuízo que tiveram e traçam planos para as próximas aulas. “Eu não sabia direito nem o que era a Bolsa de Valores. Aprendi que isso pode mudar o nosso futuro”, disse Luiz Gustavo Gomes Maia, de 14 anos. “Quando a gente compra uma ação que não está dando lucro, a gente quer vender na hora, mesmo sabendo que uma hora ou outra ela pode subir, se valorizar. A disciplina ajuda muito a gente a controlar essa ansiedade, além do conhecimento técnico que a gente adquire, a análise de gráficos”, explicou Maria Fernanda Carvalho, também de 14 anos.
A Emily, que a gente citou no início do texto, está levando a coisa tão a sério que não pretende perder tempo. “Meus pais, minha vó e minha tia já estão me incentivando a investir em ações. A gente planeja pegar uma quantia agora e investir. É uma forma de planejar o meu futuro”, explicou. Na opinião do professor João Marcelo, a disciplina vai além dos conhecimentos em sala de aula. É um ensinamento para a vida. “Acho que vamos criar cidadãos mais realistas. Ensinar desde cedo a lidar com dinheiro pode fazer com que esses jovens de hoje possam fazer melhores escolhas lá na frente”, sentenciou.