O primeiro semestre deste ano encerrou com um número negativo no mercado empresarial do Rio Grande do Norte. O volume de abertura de empresas na Junta Comercial do Estado (JUCERN) apresentou queda de 25% em relação ao mesmo período do ano passado. As solicitações de baixa de empresas (fechamentos) sofreu aumento de 0,5% no mesmo intervalo de tempo ante os seis primeiros meses de 2019. A estimativa é que os efeitos da pandemia do novo coronavírus sejam sentidos ao longo do segundo semestre, com ampliação nas baixas. Conforme estimativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomércio RN), pelo menos 12 mil negócios podem encerrar definitivamente as atividades no Estado por causa da crise provocada pelo isolamento social e fechamento dos empreendimentos comerciais por aproximadamente quatro meses.
Em números consolidados pela JUCERN, de janeiro a junho deste ano foram feitas 2.866 solicitações de novos negócios. No mesmo período do ano passado, esse número era de 3.811. O quantitativo de empresas que encerraram suas atividades se manteve estável no referido intervalo de tempo. São 2.345 baixas em 2020, e 2.334 nos mesmos meses de 2019.
“Como era esperado a pandemia afetou o setor econômico significativamente, ainda mais se lembrarmos que o Rio Grande do Norte vinha em uma crescente. Segundo dados da JUCERN, no ano passado foi registrado o maior aumento em dez anos no número de empresas abertas, um incremento de 15%. E agora, o setor produtivo está sendo afetado pelo momento atípico. A Junta Comercial está se adaptando ao momento de isolamento social, priorizando os serviços digitais e a desburocratização de procedimentos, para apoiar o nosso empreendedor”, destaca o presidente da JUCERN, Carlos Augusto Maia.
Para o presidente da Fecomércio RN, Marcelo Queiroz, a queda na abertura de novos empreendimentos no Estado reflete um efeito primário da pandemia do novo coronavírus. Esse efeito, conforme previsão da entidade, poderá se agudizar ao longo dos próximos meses.
“Este é mais um indicador da desaceleração brutal que a economia vem sofrendo, como efeito primário da pandemia. Os números negativos vêm se avolumando e são preocupantes. Felizmente, com o início efetivo da retomada gradual da atividade econômica em nosso Estado, esperamos que este movimento comece em breve a se reverter, reduzindo os impactos nocivos, que são os mais variados, de curto, médio e longo prazos, que já esperamos para a economia como um todo. Infelizmente, ainda deveremos levar um tempo para que possamos falar em volta do crescimento econômico no Rio Grande do Norte e no Brasil de uma maneira geral. Nossa expectativa é que isso ocorra, de fato, lá pelo final do primeiro trimestre de 2021”, avalia Queiroz.
O presidente da Confederação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Norte (FCDL RN), José Maria da Silva, compartilha de pensamento similar ao do colega Marcelo Queiroz ao avaliar os dados da JUCERN.
“Esses números negativos são um reflexo da crise econômica que estamos passando provocada pela pandemia da covid-19. O ano de 2020 começou com perspectivas positivas e um cenário otimista para a economia. De uma hora para outra tudo parou. As incertezas do momento levaram muitos empreendedores a recuar. Quem estava pronto para iniciar um novo negócio, investir ou ampliar área de atuação optou por segurar um pouco, esperar por uma estabilidade da economia, ou ao menos um cenário favorável para empreender. Esses números são ruins para economia, para o emprego e para o desenvolvimento do Estado. Mas precisamos ser otimistas e acreditar que esse recuo foi necessário para o momento, mas que será revertido. O brasileiro é empreender, criativo e aguerrido. Tenho certeza de que vamos virar esse jogo”, afirma.
Pandemia
Os meses com os menores registros de abertura de empresas no Rio Grande do Norte em 2020 são justamente aqueles nos quais os casos de covid-19 explodiram. Em abril deste ano, o primeiro mês completo de isolamento social e fechamento das atividades econômicas no Estado, a JUCERN registrou 291 novas empresas. No mesmo mês do ano passado foram 643. Em maio, nova queda. De 747 em 2019 para 363 em 2020. Em junho, situação um pouco melhor, mas ainda de queda: 578 em 2019 para 482 este ano.
De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Natal (CDL Natal), José Lucena, o mercado como um todo atravessa um ciclo de incertezas.
“Estamos vivendo um ciclo bem difícil aqui no Estado, com fechamento de empresas, aumento do desemprego, queda na arrecadação, ameaça de atraso salarial do governo, e falta de prestação de serviço pela ausência de recursos públicos. Isso é fato, mas precisamos reverter esse quadro, e acredito ser possível. Necessitamos reaquecer a economia, e só será possível voltar a crescer se planejarmos a longo prazo, criarmos e incentivarmos por exemplo, uma cultura empreendedora desde a educação nas escolas. O emprego como conhecemos hoje está cada vez mais difícil, as pessoas precisam se sustentar e a alternativa possível é o empreendedorismo, e o momento pede isso”, frisa Lucena.
CNC defende estímulo ao comércio
O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, reafirmou que o setor terciário, que engloba comércio e serviços, foi o mais atingido pela pandemia da covid-19. Em entrevista semana passada ao programa Agenda Econômica, da TV Senado, ele afirmou que as micro, pequenas e médias empresas não estão suportando o longo período de portas fechadas. “Vivemos hoje clima de guerra, e é preciso encontrar fórmulas que deem suporte ao reerguimento da atividade do comércio. Maior empregador do Brasil e responsável por 65% do Produto Interno Bruto (PIB), sofremos mais porque, ao contrário da indústria e da agricultura, não exportamos, o que seria um alívio importante num momento delicado como esse”, disse.
A paralisação das atividades provocada pela crise do novo coronavírus revelou números negativamente expressivos para a economia do País, segundo o dirigente: R$ 240 bilhões de perdas em vendas, cerca de 15 mil lojas que encerraram suas atividades e desemprego em massa. Só o setor de turismo demitiu quase 1 milhão de pessoas.
“O Turismo, dos segmentos ligados à CNC, é o que mais sofreu, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. É uma realidade tão dura que, na minha opinião, turismo e hotelaria são setores que merecem do governo o mesmo tratamento que as companhias aéreas receberam. São negócios que estão interligados, um não vive sem o outro”, ressaltou na entrevista.
Atividade
Para ele, o comércio vive hoje um círculo danoso de atividade econômica. “Temos um vírus como inimigo oculto. A solução só virá quando nossos cientistas descobrirem a vacina. Até lá, temos que trabalhar para atenuar os danos, reabrindo os estabelecimentos aos poucos, de acordo com os segmentos, seguindo rigidamente as normas das autoridades sanitárias e da Organização Mundial de Saúde”, frisou.
Tadros disse que é preciso pensar positivo. “Somente com essa reabertura gradual do varejo, o comércio já reduziu sensivelmente suas perdas. Em junho, o faturamento do setor foi em torno de R$ 9,5 bilhões maior do que no mês anterior. Pela nossa perspectiva, com a economia voltando, mesmo lentamente, a um círculo virtuoso, a demanda reprimida por cerca de 90 dias começará a deslanchar e os negócios se recuperarão”, concluiu.
Tribuna do Norte