Naqueles nove minutos que dedicamos para um banho mais demorado, uma pessoa é assassinada. Na hora que gastamos dentro do carro, no trânsito, sete pessoas são mortas violentamente. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete. Cento e sessenta e oito homicídios acontecem nas 24 horas que apartam um café da manhã de outro. Mais de 5 mil em um mês. Em um único ano, o de 2014, foram 59.627 homicídios no Brasil – mais de 31 mil eram jovens. Mas somos incapazes de oferecer nove minutos de nossas vidas para lamentar, ou sequer notar, nossa juventude perdida.
Na terça-feira passada, quando os dados do Atlas da Violência 2016 com esses números foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil estava distraído com o imbróglio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu ministério, com o discurso duro da presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, com os atentados terroristas em Bruxelas. A imprensa também. E o maior número de homicídios já registrado no Brasil desapareceu.
O sangue derramado em solo brasileiro tem cor. É negro. Entre 2004 e 2014, enquanto a taxa de homicídios entre não negros caiu quase 15%, a taxa entre negros (pretos e pardos) cresceu 18%. Para cada não negro vítima de homicídio nesse período, 2,4 negros foram mortos.
O sangue derramado também tem sotaque. Alagoas é o Estado com a maior taxa de homicídios do país. O Rio Grande do Norte foi onde essa taxa triplicou. É um sangue jovem o que jorra. A idade em que mais se morre é a de 21 anos – e 93,8% dos assassinados nessa faixa etária são homens. Não se trata de clichê de esquerda, de jargão de direitos humanos, mas de dados: ser homem, jovem, negro e nordestino no Brasil é ser alvo permanente.
Informações: Veja