Uma das salas de cinema mais especiais do calendário de festivais brasileiro, a Mostra de Cinema de Gostoso exibe anualmente filmes a céu aberto na paradisíaca Praia do Maceió, em São Miguel do Gostoso (RN). Este ano, a 7ª Mostra de Cinema de Gostoso acontece de 10 a 14 de março, e em formato online, sob as condições excepcionais exigidas pela pandemia da Covid-19.
Se por um lado nesta edição não será possível contar com a experiência única das exibições ao ar livre, a versão online e gratuita apresentará uma vasta programação em homenagem ao cinema brasileiro. Serão exibidos 34 filmes, a serem acessados através do site www.mostradecinemadegostoso.com.br e também hospedados na plataforma de streaming Innsaei.TV (https://innsaei.tv/). Toda a programação ficará disponível durante os cinco dias da Mostra.
Com direção geral e curadoria de Eugenio Puppo e Matheus Sundfeld, o eixo temático proposto para esta edição é centrado no debate a respeito da memória, em suas diversas facetas, enveredando por temáticas que abordem e valorizem a memória audiovisual brasileira. Esse eixo leva em consideração o estado de crise que se encontram os órgãos de preservação da memória audiovisual brasileira. A Cinemateca Brasileira, maior acervo audiovisual da América do Sul, por exemplo, zela por mais de 250 mil rolos de filmes e, atualmente, passa por uma das maiores dificuldades de sua história.
Além da exibição de filmes brasileiros contemporâneos, realização de masterclasses, laboratório de projetos e vídeos pré-gravados com cineastas, a programação contará com filmes raros de nossa cinematografia, que foram digitalizados recentemente e que são inéditos em plataformas de streaming.
A programação está dividida em: Mostra Nacional; Mostra Acervo; Sessões Especiais, compostas por dois programas – Sessão Xanadu e Sessão Boi de Prata; Sessão CineLimite; Mostra Coletivo Nós do Audiovisual. Nessas sessões, longas e curtas-metragens como Açucena, 4 Bilhões de Infinitos, De Vez em Quando eu Ardo, Vidas Secas, Copacabana Mon Amour, Bicho de Sete Cabeças, Cinemateca Brasileira, As Libertinas, Audácia, e muito mais. Confira programação completa no site da Mostra.
Na Sessão Especial – Boi de Prata, o filme Boi de Prata, com direção de Carlos Augusto da Costa Ribeira Júnior, 1981, é um dos primeiros longas-metragens produzidos no Rio Grande do Norte, ambientado na zona rural de Caicó, onde Eloy Dantas, filho de família latifundiária da cidade, ao retornar de uma temporada de estudos na Europa, quer implantar uma empresa de mineração.
Unindo forma e conteúdo, o diretor conseguiu realizar o longa-metragem no final da década de 70, usando atores, figurantes e técnicos nordestinos, contribuindo para a formação e o aprimoramento de profissionais da região Nordeste, que iriam seguir carreira no cinema do Brasil e do exterior por muitos anos, como Walter Carvalho, que fez sua estreia como diretor de fotografia em Boi de Prata, do maquiador Amaro Bezerra, entre outros. Montado por Severino Dadá e Jussara Queiroz, tem trilha e efeitos sonoros realizados por Mirabô Dantas. Na época, foi exibido para a população do RN, mas nunca teve uma temporada comercial, como o previsto.
A produtora de audiovisual Flávia Assaf (mestra em História pela UFRN) foi a responsável pela localização e digitalização da única cópia em película de “Boi de Prata” de que se tem conhecimento, cedida pela Cinemateca do MAM-RIO. Será disponibilizado, também, um depoimento em vídeo inédito com o diretor de fotografia Walter Carvalho.