21 de abril de 2025 às 08:30
21 de abril de 2025 às 07:19
FOTO: DANIEL TOROK
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (foto), afirmou neste domingo, 20, esperar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia ainda nesta semana.
Em publicação nas redes sociais, o republicano prometeu “grandes negócios com os EUA” para ambos os lados, caso a trégua seja firmada. Ele não deu mais detalhes sobre as negociações.
Na sexta-feira, o secretário de Estado, Marco Rubio, havia dito que os EUA abandonariam os esforços diplomáticos caso não houvesse sinais concretos de avanço nos próximos dias.
“Estamos chegando a um ponto em que precisamos decidir se isso é possível ou não”, afirmou Rubio em Paris, após reuniões com líderes da França, Reino Unido e Alemanha.
Apesar do tom de ultimato, Trump afirmou que a retirada das negociações não significaria o fim do diálogo, mas que os EUA buscariam outras prioridades se o impasse persistisse.
“Trégua de Páscoa”
Neste domingo, o Kremlin rejeitou a proposta de Kiev de estender o cessar-fogo de Páscoa para 30 dias. Segundo o porta-voz Dmitry Peskov, Vladimir Putin não ordenou a prorrogação da trégua, que em teoria duraria 30 horas entre sábado e domingo.
Como mostramos, Zelensky acusou a Rússia de violar mais de duas mil vezes a trégua de Páscoa anunciada por Vladimir Putin. Segundo o presidente ucraniano, os ataques ocorreram em todas as principais frentes de combate, contrariando a trégua declarada pelo Kremlin.
“Até o momento, desde o início do dia, o exército russo violou o cessar-fogo de Putin mais de 2 mil vezes. Já houve 67 ataques contra nossas posições em várias direções, sendo o maior número na direção de Pokrovsk. Foram 1.355 bombardeios, 713 com armamento pesado, além de 673 ataques com drones FPV”, afirmou Zelensky nas redes sociais.
21 de abril de 2025 às 08:15
21 de abril de 2025 às 07:55
FOTO: AFP
Com a morte do papa Francisco nesta segunda-feira (21), o Vaticano inicia uma série de procedimentos. O “Ordo Exsequiarum Romani Pontificis” (ritos funerais para um pontífice romano) contém indicações para a liturgia e as orações das cerimônias que envolvem o sepultamento. Quase 25 anos depois de sua primeira edição, uma nova versão foi publicada em novembro de 2024, após aprovação de Francisco, com a intenção de simplificar alguns processos.
Entre as mudanças, a morte do papa passou a ser constatada em sua capela privada, e não mais no quarto do pontífice. É considerado um mito o suposto gesto do camerlengo de bater gentilmente com um martelo de prata sobre a testa do papa, para atestar a morte.
A pedido de Francisco, foram eliminados os três tradicionais caixões de cipreste, chumbo e carvalho (um era colocado dentro do outro) por apenas um, simples, de madeira revestido de zinco.
Já a Constituição “Universi Dominici Gregis” (todo o rebanho do Senhor), publicada em 1996 por João Paulo 2o(1920-2005), reúne, em mais de 90 artigos, as regras de como proceder desde quando o posto do papa fica vago até a posse do substituto. Em 2013, Bento 16 (1927-2022) publicou uma carta com uma dúzia de mudanças pouco antes de renunciar ao cargo.
Quando o papa morre, o Colégio Cardinalício, o grupo de cardeais, assume as funções de Estado e de governo do Vaticano, sob autoridade do camerlengo, um cargo nomeado pelo papa. Desde 2019, o irlandês naturalizado norte-americano Kevin Joseph Farrell ocupa a vaga, escolhido por Francisco.
Nos dias sem papa, é o camerlengo quem fica responsável pelos bens da Santa Sé e estabelece o cronograma das reuniões preparatórias para o conclave, como é chamada a assembleia de cardeais que elege o próximo pontífice. Também cabe a ele, auxiliado por cardeais, definir os detalhes das cerimônias fúnebres.
O camerlengo, tão logo saiba da morte do pontífice, tem a tarefa de verificar o óbito e lacrar o quarto e o escritório papais. Em seguida, os cardeais espalhados pelo mundo são avisados, assim como os chefes de Estado internacionais. O período de cerimônias fúnebres deve durar nove dias, e o sepultamento precisa ocorrer entre o quarto e o sexto dia após a morte.
Em 2005, João Paulo 2o, o último papa a morrer no cargo, foi enterrado seis dias após a morte, aos 84 anos. Depois de exposto na Sala Clementina para funcionários do Vaticano, o corpo foi para a Basílica São Pedro, para ser homenageado pelos fiéis.
Pontífice por 26 anos, João Paulo 2o atraiu uma multidão – cerca de 3 milhões de pessoas passaram pelo Vaticano durante os seis dias. Em média, foi preciso esperar 13 horas para entrar na basílica, que registrou fluxo de 21 mil pessoas por hora. No dia do funeral, 500 mil acompanharam a missa na praça São Pedro.
Foi também um dos eventos mais midiáticos do Vaticano, com 6.000 jornalistas credenciados. Ao menos 130 redes de televisão de quase uma centena de países transmitiram o funeral. O polonês foi enterrado em uma cripta sob a basílica, onde ficou até 2011, quando foi transferido para uma capela dentro da igreja.
As proporções que cercaram a morte de Bento 16, em 2022, foram muito mais modestas. Seja porque seu papado foi menos duradouro (sete anos) e popular do que o de seu antecessor, seja porque Joseph Ratzinger não estava mais no poder –sua renúncia, em 2013, fez dele um papa emérito. Cerca de 200 mil pessoas passaram pelo Vaticano durante o velório, e a missa do funeral foi acompanhada por 50 mil.
21 de abril de 2025 às 08:00
21 de abril de 2025 às 07:18
FOTO: EFE
De acordo com a Igreja Católica, Francisco seguirá a nova edição do livro litúrgico para funerais papais. A obra Ordo Exsequiarum Romani Pontificis traz, entre outros elementos, como tratar os restos mortais do religioso após a morte.
Um dos ritos dispõe das ações imediatas após a morte. Segundo o Vaticano, “constatação da morte ocorre na capela, e não no quarto onde ele faleceu, e o corpo é imediatamente colocado no caixão”. De acordo com o arcebispo Diego Ravelli, mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, o Papa pediu que os ritos fúnebres fossem “simples e focados na fé da Igreja no Corpo Ressuscitado de Cristo”. “O rito renovado busca enfatizar ainda mais que o funeral do Pontífice Romano é o de um pastor e discípulo de Cristo, e não de uma figura poderosa deste mundo”, disse Ravelli.
Por fim, o comunicado oficial cita que o Santo Padre “nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal”:
“Queridos irmãos e irmãs, com profunda tristeza devo anunciar a morte do nosso Santo Padre Francisco. Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, confiamos a alma do Papa Francisco ao amor misericordioso do Deus Uno e Trino”.
21 de abril de 2025 às 07:45
21 de abril de 2025 às 07:14
FOTO: AFP
O Papa Francisco faleceu aos 88 anos na madrugada desta segunda-feira (21 de abril). E, nesse Domingo de Páscoa (20), o Pontífice celebrou com os fiéis na praça de São Pedro, em Roma – o que foi uma espécie de ‘despedida’.
No dia em que a Igreja Católica celebrou a ressurreição de Cristo, Francisco publicou em suas redes sociais registros de sua última aparição, e afirmou: “Na maravilha da fé pascal, trazendo no coração todas as expectativas de paz e libertação, podemos dizer: Convosco, Senhor, tudo é novo. Convosco, tudo recomeça”.
Em sua última homília, Francisco ressaltou que no anúncio da Páscoa “encerra-se todo o sentido da nossa existência, que não foi feita para a morte, mas para a vida. A Páscoa é a festa da vida! Deus criou-nos para a vida e quer que a humanidade ressurja”. O pontífice também pediu orações pela paz nas regiões que estão enfrentando guerras atualmente.
“Este anúncio de esperança ressoa hoje ainda mais forte enquanto vemos todos os dias os inúmeros conflitos que ocorrem em diferentes partes do mundo. Quanta violência vemos com frequência também nas famílias, dirigida contra as mulheres ou as crianças.
Neste dia, gostaria que voltássemos a ter esperança e confiança nos outros e a ter esperança de que a paz é possível.
Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento! A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento. Estas são as ‘armas’ da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte”.
Ao final, o Papa concedeu a bênção apostólica e saudou os fiéis do papamóvel.
21 de abril de 2025 às 07:40
21 de abril de 2025 às 07:40
FOTO: AFP
Líderes mundiais se pronunciaram, e lamentaram a morte do papa Francisco, aos 88 anos, em Roma, Itália. A morte do pontífice foi anunciada na manhã desta segunda-feira (21/4) pelo Vaticano.
O presidente francês, Emmanuel Macron, em sua conta no X, lamentou a morte de Francisco, relembrando sua trajetória.
“De Buenos Aires a Roma, o Papa Francisco quis que a Igreja levasse alegria e esperança aos mais pobres. Que ela una as pessoas entre si e com a natureza. Que essa esperança renasça continuamente além dele. Minha esposa e eu enviamos nossos pensamentos a todos os católicos e ao mundo enlutado”, escreveu Macron.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, também se pronunciou nas redes sociais.
“O Papa Francisco retornou à casa do Pai. Esta notícia nos entristece profundamente, pois um grande homem e um grande pastor nos deixou. Tive o privilégio de desfrutar de sua amizade, seus conselhos e seus ensinamentos, que nunca falharam, mesmo nos momentos de provação e sofrimento. Nas meditações da Via Sacra, ele nos lembrou o poder do dom, que faz tudo florescer novamente e é capaz de reconciliar o que aos olhos do homem é irreconciliável. E pediu ao mundo, mais uma vez, a coragem de mudar de direção, de seguir um caminho que ‘não destrói, mas cultiva, repara, protege’. Caminharemos nessa direção, para buscar o caminho da paz, perseguir o bem comum e construir uma sociedade mais justa e equitativa. Seu ensinamento e seu legado não se perderão. Saudamos o Santo Padre com o coração cheio de tristeza, mas sabemos que ele agora está na paz do Senhor”, escreveu Giorgia.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também usou as redes sociais para lamentar a morte do papa.
“Hoje, o mundo lamenta o falecimento do Papa Francisco. Ele inspirou milhões, muito além da Igreja Católica, com sua humildade e amor tão puros pelos menos afortunados. Meus pensamentos estão com todos que sentem esta profunda perda. Que encontrem consolo na ideia de que o legado do Papa Francisco continuará a nos guiar rumo a um mundo mais justo, pacífico e compassivo, escreveu Ursula.
O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D.Vance, que foi o útimo encontro profissional do cardeal, nesse domingo (20/4), comentou a triteza da perda de Francisco.
“Acabei de saber do falecimento do Papa Francisco. Meu coração está com os milhões de cristãos em todo o mundo que o amavam. Fiquei feliz em vê-lo ontem, embora ele estivesse obviamente muito doente. Mas sempre me lembrarei dele pela homilia abaixo, que ele proferiu nos primeiros dias da Covid. Foi realmente muito bonita. Que Deus o tenha em paz”, escreveu Vance.
O primeiro-ministro da Inglaterra, Keir Starmer, afirmou estar “profundamente triste ao saber da morte de Sua Santidade o Papa Francisco. Seus esforços incansáveis para promover um mundo mais justo para todos deixarão um legado duradouro. Em nome do povo do Reino Unido, compartilho minhas mais sinceras condolências a toda a Igreja Católica”.
“Eu me junto a milhões de pessoas em todo o mundo no luto pela morte do Santíssimo Papa Francisco. Sua liderança em um momento complexo e desafiador do mundo e da Igreja sem teve coragem e, mesmo assim, sem veio de um lugar de profunda humildade. Papa Francisco foi um papa para os pobres e os esquecidos. Ele viveu perto da realidade humana, da fragilidade, conhecendo cristãos por todo o mundo que encaram guerras, fome, perseguição e pobreza. E, mesmo assim, ele nunca perdeu a fé absoluta em um mundo melhor”, escreveu Starmer.
Em uma publicação no X, o primeiro-ministro da Holanda, Dick Schoof, classificou Francisco como um “homem do povo”. Ele ainda reconheceu o trabalho do papa em “questões candentes da nossa época”.
“O Papa Francisco foi, em todos os sentidos, um homem do povo. A comunidade católica global se despede de um líder que reconheceu as questões candentes da nossa época e chamou a atenção para elas. Com seu estilo de vida sóbrio, atos de serviço e compaixão, o Papa Francisco foi um modelo para muitos – católicos e não católicos. Lembramo-nos dele com grande respeito”, declarou Schoof.
O presidente da Lituânia, Gitanas Nausèda, lamentou a partida do líder da Igreja Católica, e disse que o mundo perdeu um “amigo sábio e próximo”.
“Seus ensinamentos sobre fraternidade e amizade social são extremamente importantes para nós agora, quando as forças do mal, por meio de guerras e agressões, estão destruindo a esperança de coexistência pacífica e tentando apagar dos corações das pessoas a perspectiva de um mundo justo e harmonioso”, disse o líder da Lituânia.
Da Polônia, o presidente do país, Andrzej Duda, disse que o papa Francisco guiou os anos de sua liderança na Igreja Católica pela “humanidade e modéstia”.
“O Papa Francisco faleceu hoje e foi para a Casa do Pai. Em seu ministério pastoral ele foi guiado pela humildade e modéstia. Ele escolheu como lema papal as palavras de seu lema episcopal: “Miserando atque eligendo” (“Ele olhou com misericórdia e escolheu”). Ele foi um grande apóstolo da Misericórdia, na qual viu a resposta para os desafios do mundo moderno”, escreveu o presidente polonês nas redes sociais.
Já o premiê da República Tcheca, Petr Fiala, descreveu o líder católico como uma pessoa que “buscou transformar a igreja”.
“Ele era um homem de fé profunda que buscou transformar a igreja para que ela pudesse cumprir melhor sua missão na sociedade contemporânea. Ele demonstrou grande preocupação por aqueles que sofriam alguma injustiça e irradiava humanidade e humildade. Lembro-me do encontro pessoal com gratidão. Que ele descanse em paz!”, disse Fiala.
21 de abril de 2025 às 07:30
21 de abril de 2025 às 07:13
FOTO: AFP
O Papa Francisco, que morreu aos 88 anos na madrugada desta segunda-feira (21 de abril), completou 12 anos de pontificado no dia 13 de março de 2025. Das reformas à diplomacia, passando pelo combate à pedofilia, confira as suas grandes linhas de atuação como líder da Igreja Católica.
Reformas
Francisco trabalhou para implementar uma reforma de longo alcance da Cúria romana – o governo central da Santa Sé – para torná-la mais atenta às igrejas locais. O pontífice argentino queria descentralizar a instância e dar mais espaço aos laicos e às mulheres.
Essas reformas, por vezes criticadas internamente, materializaram-se com a entrada em vigor, em 2022, de uma nova Constituição, que reorganiza os departamentos (ministérios) e prioriza a evangelização.
Francisco também renovou o obscuro e escandaloso setor financeiro do Vaticano, criando em 2014 um Secretariado de Economia, além de implementar uma estrutura de investimento e medidas anticorrupção. Ele também ordenou o reajuste do Banco do Vaticano, com o fechamento de 5.000 contas.
Essas mudanças foram afetadas pela pandemia de covid-19 e pelo choque do caso Becciu, um proeminente cardeal italiano julgado por uma aquisição imobiliária sem transparência por parte da Santa Sé.
Combate à pedofilia
A multiplicação dos escândalos sexuais na Igreja, da Irlanda à Alemanha, passando pelos Estados Unidos, tem sido um dos desafios mais dolorosos para o papa argentino.
Após os fracassos de uma comissão internacional de especialistas criada em 2014 e uma controversa viagem ao Chile em 2018 que terminou em uma série de notórias renúncias e exclusões, Francisco se desculpou publicamente por ter defendido um bispo de maneira equivocada. Ele também multiplicou suas desculpas às vítimas.
Em 2019, expulsou o cardeal americano Theodore McCarrick, condenado por agressões sexuais a menores. Este foi um gesto forte em sua promessa de “tolerância zero” contra esse tipo de ação. O pontífice também criou uma comissão consultiva para a proteção de menores, que acabou sendo integrada à cúria. Uma cúpula inédita no Vaticano sobre a proteção de menores em 2019 deu origem a uma série de medidas: supressão do segredo pontifício sobre crimes de abuso sexual por parte do clero, obrigação dos religiosos de denunciar qualquer caso à sua hierarquia, plataformas de ouvidoria em dioceses ao redor do mundo… Mas o segredo da confissão permanece inabalável.
Diplomacia e “periferias”
Em suas 40 viagens ao exterior, Jorge Bergoglio quis dar mais importância às “periferias” e preferiu os países marginalizados do leste europeu ou da África, aos redutos católicos ocidentais.
O papa defendeu o multilateralismo e denunciou implacavelmente o comércio de armas Também optou pelo diálogo com todas as religiões, especialmente com o Islã, como demonstrado em uma visita histórica ao Iraque em 2021.
Durante seu pontificado, ele também chegou a um acordo inédito com o regime comunista de Pequim, em 2018, sobre a espinhosa questão da nomeação de bispos na China. A diplomacia da Santa Sé também colaborou para a histórica aproximação entre Cuba e os Estados Unidos em 2014.
Mas se deparou com o muro da guerra na Ucrânia, onde os inúmeros apelos de paz do papa argentino não surtiram efeito. Este conflito também enterrou a aproximação com o patriarca ortodoxo russo Kirill, base de apoio de Moscou, apesar de um encontro histórico com Francisco em 2016, o primeiro entre os líderes das Igrejas Oriental e Ocidental desde o Cisma de 1054.
Migrações e meio ambiente
Na ilha italiana de Lampedusa, símbolo dos naufrágios de migrantes, ou no acampamento grego de Lesbos, no mar Egeu, o pontífice – ele próprio oriundo de uma família de migrantes italianos que chegaram à Argentina – tem defendido a todo custo as pessoas que fogem da guerra ou da pobreza e pediu um acolhimento sem distinção, sobretudo na Europa.
Com sua encíclica “Laudato Si” (2015), ele pediu uma “revolução verde” e criticou o “uso irresponsável dos bens que Deus colocou” na Terra. Francisco, que apoia o Acordo de Paris, reiterou seu compromisso com a “ecologia integral”.
21 de abril de 2025 às 07:15
21 de abril de 2025 às 07:10
FOTO: EFE
O papa Francisco passou seus últimos dias a serviço da Igreja, participando o máximo que pôde da celebração da Páscoa, o ponto alto do calendário cristão.
O pontífice de 88 anos não liderou os principais serviços da Semana Santa e da Páscoa, mas fez breves aparições no fim de semana, incluindo passar 30 minutos em uma prisão em Roma na quinta-feira (17) e fazer uma visita à Basílica de São Pedro na noite de sábado (19).
E então, na manhã de domingo (20), ele pôde oferecer a bênção “Urbi et Orbi” à “Cidade [de Roma] e ao Mundo”, enquanto um assessor lia seu discurso. Somente o papa pode oferecer essa bênção, que inclui a oferta de uma indulgência, a remissão dos efeitos dos pecados.
Mais tarde, ele saudou a multidão entusiasmada na Praça de São Pedro a partir do papamóvel, a primeira vez que o fez desde sua hospitalização. Ele também se encontrou brevemente com o vice-presidente dos EUA, JD Vance, o último dignitário cívico estrangeiro a se encontrar com o Papa Francisco.
“É bastante extraordinário que, após o ponto mais alto do ano litúrgico da Igreja, no ponto mais alto, o papa então faleça, e isso é, de certa forma, bastante apropriado, porque, claro, a mensagem da Páscoa é sobre a morte e a nova vida”, disse o correspondente da CNN no Vaticano, Christopher Lamb, de Roma.
Os últimos dias de Francisco foram realmente dedicados a servir a Igreja, a continuar seu ministério até o fim. Ele não renunciou, como alguns especularam (que faria). Ele sempre demonstrou sua determinação de ir até o fim, de servir até o último momento.
21 de abril de 2025 às 07:00
21 de abril de 2025 às 07:18
FOTO: AFP
Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires no dia 17 de dezembro de 1936, em uma família de origem italiana. Era o mais velho de cinco filhos e foi criado no bairro portenho de Flores.
Até se tornar pontífice, ele percorreu um longo caminho na Igreja Católica, foi arcebispo na capital argentina e marcou a história do país.
Como seus avôs sempre conversavam no idioma nativo, ele afirma que o piemontês, dialeto italiano, foi sua língua materna. Esse era apenas um dos seus vínculos com a Europa: as notícias da Segunda Guerra Mundial no rádio e a reação dos pais ao escutarem sobre as atrocidades de Adolf Hitler o marcaram quando pequeno.
Mas a infância de Bergoglio, no bairro portenho de Flores, foi profundamente argentina. Todos os domingos, ele ia com toda a família assistir aos jogos do San Lorenzo de Almagro, clube no qual o pai jogava basquete e do qual ele se tornou torcedor apaixonado.
O clube foi fundado por Lorenzo Massa, um padre. Ele também frequentava a missa com a avó Rosa na Basílica de San José de Flores e estudou em algumas escolas católicas. No internato salesiano, aos 12 anos, sentiu pela primeira vez a vocação sacerdotal.
Na autobiografia “Vida – Minha História Através da História”, lançada em abril de 2024, Francisco conta que chegou a conversar com um padre do internato sobre isso e fez algumas perguntas, mas que o desejo permaneceu adormecido, até se manifestar definitivamente nos anos 1950.
Ele conta, inclusive, que chegou a ter uma namorada. Bergoglio a descreve como “uma menina muito doce, que trabalhava no mundo do cinema e que depois casou-se e teve filhos”.
Depois dela, já no seminário, ele teve “uma pequena paixão”. “É normal, ou não seríamos seres humanos”, explicou no livro, relatando que a conheceu no casamento de um tio e ficou encantado.
“Ela virou minha cabeça com sua beleza e inteligência. Por uma semana, fiquei com sua imagem na mente, e foi difícil conseguir rezar! Depois, felizmente, passou e me dediquei de corpo e alma à minha vocação”, relata, qualificando o episódio como uma “provação”.
Na adolescência, Bergoglio se formou em técnico em química pela Escola Técnica Industrial e chegou a fazer estágio em um laboratório de análises químicas.
Mas em 21 de setembro de 1953, quando estava a caminho de um encontro com amigos para um piquenique, sentiu necessidade de entrar na Basílica de Flores, que costumava frequentar.
Durante a confissão, ele conta que “algo estranho aconteceu”, mudando sua vida para sempre: “Eu estava maravilhado por ter encontrado Deus subitamente. Ele estava lá me esperando, antecipou-se a mim”, descreveu em sua autobiografia.
“Mais do que um piquenique com os amigos! Eu estava vivendo o momento mais bonito da minha vida, estava me entregando totalmente nas mãos de Deus!”, detalhou no livro.
Francisco não falou com ninguém da família do chamado ao sacerdócio até pegar seu diploma. Também não contou para os amigos, com os que jogava bilhar, falava de política e dançava tango. Mas em 1955, quando já tinha que escolher faculdade, decidiu conversar com o pai.
Segundo Francisco, ele ficou contente. O temor era contar para a mãe. “Sabia que ela não aceitaria minha escolha, e por isso, inventei que estudaria Medicina”, explicou. Mas um dia, limpando a casa, ela viu seus livros de teologia, e não aceitou bem a revelação.
Apesar do pedido materno para que ele fizesse uma faculdade e depois decidisse, Bergoglio entrou no seminário arquidiocesano aos 19 anos.
Papel na ditadura
Uma das grandes polêmicas que o envolvem se refere justamente ao seu papel na ajuda a perseguidos políticos da ditadura. Ele chegou a ser acusado, na Argentina, de omissão e até colaboração na prisão dos padres jesuítas Orlando Yorio e Francisco Jalic, em 1976.
Em sua autobiografia, o papa diz que a acusação é caluniosa e conta que falou com o ditador Jorge Rafael Videla e Emilio Massera, outro líder da junta militar que governava o país, para interceder pelos jesuítas. Eles acabaram soltos após cinco meses de prisão e torturas.
Ele também relata ter feito contatos para a libertação de outro catequista, e que chegou a ajudar um perseguido parecido com ele a se disfarçar de padre e fugir da Argentina com sua carteira de identidade.
“Arrisquei muito daquela vez porque, se o tivessem descoberto, sem dúvida o teriam assassinado e vindo atrás de mim”, contou.
Ascensão na Igreja
Em 20 de maio de 1992, o papa João Paulo II o nomeou bispo auxiliar de Buenos Aires. Nesse período, intensificou o trabalho pastoral dedicado aos mais pobres.
Foi nomeado cardeal por João Paulo II, em 2001. Ao receber a notícia, convenceu centenas de argentinos a não viajarem para Roma. Em vez de ir ao Vaticano celebrar a nomeação, pediu que dessem o dinheiro da viagem aos pobres.
Também presidente da Conferência Episcopal Argentina entre 2005 e 2011, ele liderou a Igreja Católica do país e virou o principal rosto da oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Bergoglio discursou em manifestações contra o projeto de lei que autorizava o matrimônio igualitário e chegou a enviar uma carta a freiras carmelitas afirmando que a oposição à iniciativa era uma “guerra de Deus”.
Foi escolhido papa em 2013, depois da renúncia do papa emérito Bento XVI, que deixou as funções devido à idade avançada. Sua eleição como líder da Igreja Católica ocorreu em 13 de março de 2013, no segundo dia do conclave.
Naquela votação, quando seu nome atingiu dois terços das preferências e ele foi aplaudido, o cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, se aproximou, deu-lhe um beijo e disse: “Nunca se esqueça dos pobres”.
“Foi ali que escolhi o nome que teria como papa: Francisco”, contou ele em seu livro. A decisão, tomada após as palavras do brasileiro, foi uma homenagem a São Francisco de Assis, conhecido por ter exercido sua vida religiosa na simplicidade e se dedicando aos pobres.
Além de ser escolhido como o primeiro papa sul-americano, Francisco foi o primeiro pontífice não europeu em mais de 1.200 anos, desde o sírio papa Gregório III, que liderou a Igreja Católica entre 731-741.
Hábitos discretos e posicionamentos fortes
O papa Francisco sempre evitava aparições na mídia, utilizava o transporte público e não frequentava restaurantes. Porém, tinha opiniões e algumas atitudes consideradas “extravagantes” para a Igreja Católica.
Como em 2015, quando junto com o grupo de rock progressivo Le Orme, lançou um disco chamado “Wake Up!”.
Em 2019, durante uma visita aos Emirados Árabes Unidos, o papa se encontrou com Ahmed Al-Tayeb, Grande Imã de Al-Azhar, em Abu Dhabi. Eles assinaram o Documento sobre a Fraternidade Humana.
Francisco convidou os seus clérigos e os leigos para que se opusessem ao aborto e à eutanásia.
Trabalhou para restaurar a credibilidade do Vaticano, abalada por escândalos financeiros e denúncias de abusos sexuais.
Em abril de 2014, pediu perdão pelos casos de pedofilia cometidos por sacerdotes da Igreja Católica.
Foi forçado a reduzir o ritmo das viagens internacionais por causa de fortes dores no joelho direito. Para se poupar, passou a cumprir muitos dos compromissos em uma cadeira de rodas.
Papa diplomata
Francisco também tinha um lado diplomata, e usou a influência do Vaticano para tentar ajudar na solução de conflitos.
Mediou, por exemplo, conversas pela reaproximação entre Estados Unidos e Cuba. Também fez dezenas de apelos pelos direitos dos refugiados e criticou os países que fecharam as portas para os imigrantes.
Sempre foi um duro crítico da guerra da Ucrânia e chorou em público ao lembrar dos ucranianos que sofriam com a invasão da Rússia.
E continuou, apesar do agravamento dos problemas de saúde, manifestando preocupação com o bombardeio de civis em Gaza. Mesmo hospitalizado, o Papa continuou fazendo ligações diárias para uma paróquia na região, para acompanhar a situação.
Com o jeito informal nas palavras e nos gestos, cativou milhões de fiéis.
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