Filho de pai cassado, Henrique Alves deixa de segurar a bandeira do MDB que empunhava desde os 21 anos de idade
O saudoso ex-governador Aluízio Alves estaria se revirando no túmulo, caso pudesse ver a saída dos quadros do PMDB, hoje MDB, do seu filho e herdeiro político, o ex-ministro e ex-deputado federal, Henrique Eduardo Alves, que durante 52 anos segurou a bandeira do partido que ainda hoje remete a memória do seu pai. Aluízio, certamente, ficaria ainda mais impactado em sua tristeza, ao constatar do seu leito de morte que a saída de Henrique do MDB é resultado de uma briga familiar levada a efeito por quem ele, Aluízio, menos poderia esperar – o ex-senador Garibaldi Alves e o seu filho, o deputado federal Walter Alves, que se tornaram “inimigos internos” de Henrique.
Henrique anunciou através de uma carta política o seu desligamento do MDB, partido pelo qual exerceu 11 mandados parlamentares. Henrique Eduardo, que elegeu-se deputado a primeira vez em 1970, substituindo o pai Aluizio Alves, cassado pela Ditadura Militar em 1969, também informou que vai se filiar ao PSB para disputar as eleições proporcionais deste ano.
Confira a íntegra da carta de Henrique:
“Prezadas e Prezados conterrâneos! Queridas e Queridos bacuraus!
Queria, por um milagre, que todos vocês pudessem me ver agora, escrevendo essas palavras.
Uma emoção intensa, imensa.
Um filme passando diante de meus olhos, em câmera lenta… MDB, a minha história.
1966, 56 anos de vida do MDB.1970, início do meu caminhar.
Naqueles tempos difíceis, eu, um jovem de 21 anos, segurava a bandeira verde do MDB, com a coragem do mundo… porque aprendi cedo, com meu pai, que a luta é constante e a esperança não morre…
Nunca estive só, pois sempre esteve ao meu lado o bacurau solidário, polegar para cima, camisa verde, o abraço, o aconchego. GRATIDÃO!!!!
Construímos, ao lado de tantos companheiros, de ontem e de hoje, uma casa linda, aconchegante, fraterna e democrática.
Nesse caminhar de lutas e ideais, o reconhecimento do meu Estado, que na minha décima primeira eleição, em 2010, me presenteou com a maior votação da minha história: 191 mil votos!
Nessa estrada de muito trabalho e serviços prestados, sofri também derrotas, percalços e provações, mas sem jamais esquecer minha origem e fortaleza: o ninho bacurau.
Até que Deus, com sua bênção, me deu a maior vitória no Judiciário nacional: a absolvição, por unanimidade, de uma acusação absurda. Justiça foi feita!
Do Brasil, recebi o parabéns respeitoso. Do Rio Grande do Norte, o carinho e a solidariedade pelo reconhecimento da minha inocência. Bacurau verdadeiro, livre, enfim, para voar…
Sobreveio, então, um estranho e inesperado gesto: a direção estadual do MDB não reconheceu os meus longos anos de militância no partido. Passou a não me ver, não me ouvir, não me falar. Não me querer…!
Infelizmente, aquela casa que construímos se apequenou. Não falo de números, falo de sentimentos. O querer bem e fazer o bem.
Saio hoje do MDB ao qual dediquei toda a minha vida. Porque a escolha, como disse Nelson Mandela, “tem que refletir a esperança e não o medo.”
Sigo movido pela esperança que nunca me faltou.
Agradeço aos partidos Cidadania, PSB, Republicanos, PL, Avante, pelos convites tão honrosos que demonstram respeito pela nossa história e correção.
Aos que ficam, sem ressentimentos, desejo boa sorte!
Vou buscar meus caminhos de paz, porque tem muito Rio Grande do Norte pela frente!
E, na saudade abençoada do meu pai, “sem ódio e sem medo.”
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