Rede Brasileira de Mulheres Cientistas tem 22 da UFRN
Ao menos 22 mulheres cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) já aderiram à Rede Brasileira de Mulheres Cientistas, movimento lançado nessa segunda-feira, 19, em defesa da vida das mulheres na pandemia. De acordo com a carta de intenções, escrita pelo grupo, a proposta busca chamar atenção para a condição das mulheres brasileiras na pandemia, algo praticamente ignorado no debate público. “Há uma ausência completa de políticas públicas voltadas a apoiar as mulheres e meninas neste momento de crise humanitária”, afirma o documento.
Até o momento, mais de mil mulheres inscreveram-se para atuar nessa frente. De acordo com a professora Sandra Gomes, do Departamento de Políticas Públicas do Centro de Ciências Sociais Humanas, Letras e Artes (CCHLA/UFRN), a pandemia atinge a todos de formas muito adversas, mas é sabido que as mulheres são ainda mais negativamente afetadas e, mesmo assim, não há políticas públicas dedicadas a apoiá-las durante esse difícil momento.
“Nos colocamos, como grupo e especialistas, para colaborar no debate público e ajudar a pensar em políticas públicas no âmbito dos governos legislativos municipais e estadual do Rio Grande do Norte. Os números mostram a dramaticidade da situação das mulheres no Brasil. É realmente chocante pensar, por exemplo, que de cada 10 grávidas ou puérperas que morrem em virtude da COVID-19 no mundo todo, oito são mulheres brasileiras”, afirma a pesquisadora.
Para Luciana Lima, professora do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais do Centro de Ciências Exatas e da Terra (CCET/UFRN), a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas é um movimento que expressa bem o protagonismo feminino no enfrentamento da pandemia. “Ousado, envolvente e movido por um anseio coletivo de contribuir para a mitigação dos efeitos da crise para um dos grupos mais afetados da sociedade”, reforça.
Em sua opinião, a reunião de pesquisadoras de várias instituições do país, de diversas áreas do conhecimento, de diversas origens e percursos ao longo da carreira científica, joga luz no fim do túnel. “Nunca precisamos tanto de estarmos juntas, aplicarmos às nossas pesquisas e conhecimento acumulado e de sermos esperança a tantas mulheres desse país que sofrem ao mesmo tempo com a doença e o abandono do poder público.”, completa Luciana.
Na carta pública divulgada, o grupo considera estratégica a implementação de políticas dirigidas às mulheres em torno de seis grandes temas: Saúde; Violência; Educação; Assistência social e Segurança alimentar; Trabalho e emprego; e Moradia e Mobilidade. Além disso, afirma que as propostas para essas políticas já estão prontas, uma vez que há muito acúmulo de conhecimento, produção altamente qualificada e experiências em torno desses seis temas. “O que queremos com nossa articulação é levar essas respostas para o centro do debate público, buscando uma abordagem integrada em torno das necessidades cotidianas das mulheres”, diz a carta, apontando, em seguida, as diretrizes para cada um desses pontos.
“A pandemia afeta todas as brasileiras e os brasileiros, mas de forma desigual. As mulheres, especialmente as negras, empobrecidas, rurais e nas regiões Norte e Nordeste, são especialmente afetadas pela crise econômica que estamos vivendo, incluindo desemprego, precarização e perda de renda. Além disso, o fechamento dos serviços de cuidado, especialmente creches e pré-escolas, aumentaram notavelmente o trabalho doméstico não remunerado, que é principalmente realizado pelas mulheres. Medidas de isolamento e distanciamento levam as pessoas a terem de conviver mais tempo dentro de casa, o que cria um ambiente propício para a ocorrência de violências de gênero não denunciadas”, aponta a professora Mariana Mazzini Marcondes, do Departamento de Administração Pública e Gestão Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA/UFRN).
Segundo ela, para pensar ações públicas voltadas ao enfrentamento da pandemia é fundamental trazer a público uma perspectiva de promoção de igualdade de gênero, articulando-a com a igualdade de classe, raça e etnia, entre outras. Além disso, todas as iniciativas formuladas e implementadas devem responder se promovem mesmo a igualdade. “Esse compromisso de pautar a igualdade de gênero é o que mobiliza mulheres cientistas a se unirem. É importante considerarmos que as mulheres cientistas experimentam os efeitos das desigualdades em seu cotidiano. A 2ª Edição do Estatísticas de Gênero do IBGE aponta que, ainda que as mulheres tivessem maior escolaridade que os homens, elas eram 46,8% do corpo de docentes de instituições de ensino superior no Brasil”, finaliza Mariana Mazzini.
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