Pacote para Miami custava 45% do salário anual de domésticos no ano da festa de Guedes
Empregadas domésticas viajavam para Miami no ano da festa de 2012, segundo o ministro Paulo Guedes, quando o dólar andou por R$ 1,80. Mas devia ser uma festa para poucas e poucos.
Os pacotes de viagem mais em conta custavam R$ 3 mil. Equivaliam a 45% do salário médio anual de um empregado doméstico, segundo contas feitas com os dados do IBGE. Mas o salário médio da maioria era bem menor: 68% dos trabalhadores domésticos não tinha carteira assinado. Neste caso, o pacote para Miami levaria 54% da renda anual bruta deles.
No começo de 2012, um pacote de viagem mais baratinho para Miami ou Orlando custava uns R$ 3.000, R$ 300 em dez vezes, “sete dias, seis noites”, só com café da manhã. O salário médio mensal de um empregado doméstico naquele ano foi em média de R$ 552, valores da época. Sem carteira assinada, o rendimento médio era de R$ 458 (equivalente hoje em dia a R$ 691, considerada a inflação).
Obviamente, havia empregados domésticos que ganhavam bem mais do que a média. Ou empregados que, por uma situação familiar excepcional, pudessem poupar, talvez anos.
Em 1998, pouco antes da grande desvalorização do real, Fernando Henrique Cardoso dizia que as empregadas de sua casa podiam viajar para a Europa, de férias, graças ao real forte. Acontecia, aconteceu. Festa geral dificilmente foi. Ao menos para os empregados domésticos.
Note-se, no entanto, o recorde de gastos de brasileiros no exterior ocorreu em 2014, não no final dos anos 1990 ou em 2012, anos de recorde de valorização da moeda brasileira.
Folha de S. Paulo
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