ADEUS CURTIDAS: O terror dos digital influencers se confirmou
Que o Instagram é uma das principais redes sociais do momento não é novidade para ninguém. A rede foi criada em 2010 e logo ganhou fama atingindo números cada vez maiores. O sucesso do Instagram consolidou-se tanto entre usuários populares, quanto para as empresas que acabaram descobrindo na ferramenta uma excelente opção para alavancar seus negócios.
Quando nasce uma estrela, logo seu brilho atinge outros astros. Frase bonita não é? Pois é. A ferramenta, sem dúvidas é uma grande estrela, cheia luzes e com muitos reflexos; que digam os Digital Influencers que descobriram no aplicativo a “receita” para anunciar ao mundo Quem são; O que fazem; Por que estão ali…
Foi dada a largada: Quanto mais CURTIDAS, mais “POPULARIDADE”
Números, números e mais números. Pois é, não demorou e a rede logo se transformou numa disputa “desenfreada” por Curtidas. O negócio ficou tão “louco” que até aplicativos para “comprar curtidas” foi criado! Não importa se os números são reais ou fabricados; o mais importante é que APAREÇAM e sejam “deveras enorme!”.
Sutilmente, pouco a pouco, essa competição acabou desencadeando até mesmo problemas psicológicos. Pessoas aparentemente frustradas pelo fato de um determinado post em sua página não ter atingido o mesmo número que a postagem do concorrente. Sabe aquela famosa expressão utilizada pelos psicoterapeutas, “os gatilhos”? Pois é, um “gatilho aciona outro gatilho”. Parece poético, mas o caso é sério. Nunca se ouviu falar tanto em pessoas depressivas, sem vida social – apesar de parecer bela e feliz nas fotos publicadas nos stories e feed.
A tal frustração e “vida de aparências” inspirou o cantor Tiago Iorc que chegou a compor uma música sobre o tema em seu mais recente álbum: Reconstrução. A música em questão foi “batizada” como “Desconstrução”.
Veja o clipe:
No mínimo forte, não é mesmo?
Vejamos uma interessante análise feita pelo psicólogo e escritor Othon Júnior sobre a música:
“Quando se viu pela primeira vez / Na tela escura de seu celular”
Ato da pessoa observar a si, a partir da ótica das novas mídias, da tecnologia, das relações digitais, virtuais.
“Tela Escura” pode significar algo negativo, como a nomofobia (medo de estar sem celular ou tecnologias, medo de estar fora de alguma atualização, de perder algo). “tela escura” pode simplesmente significar a tela do smartphone desligada e, quando isso ocorre, a tela reflete a face.
“Saiu de cena pra poder entrar / E aliviar a sua timidez / Vestiu um ego que não satisfez”
A pessoa real sai e entra um personagem, uma capa fica online e o rosto real fica offline. Uma estratégia para disfarçar a timidez. Vestiu um “ego”, um “eu” que não satisfez a si, mas que satisfará quem? Os seguidores? Os likes? Comentários?
“Dramatizou o vil da rotina / Como se fosse dádiva divina”
Dramatizou o vil (o que tem pouco valor, o ordinário, aquilo que não presta) da rotina. O instagram começou bombar quando a galera postava fotos de comida (perfeitas, bem harmonizadas). Será que isso já seria um reflexo do que estaria por vir? Antes, comidas perfeitas, agora, pessoas perfeitas.
Essas rotinas, elevadas a acontecimentos divinos! Banhos na piscina do condomínio. Fotos na academia ou correndo 5k. Uma ida a um nutricionista, ou a notícia da casa invadida.
“Queria só um pouco de atenção / Mas encontrou a própria solidão / Ela era só uma menina”
Então o compositor conclui que dramatizar a rotina como se fosse uma dádiva divina é apenas uma estratégia para chamar atenção. Mas que revela a própria solidão e imaturidade (menina) de quem vive nesse esquema.
“Abrir os olhos não lhe satisfez / Entrou no escuro de seu celular”
“Abrir os olhos”, ou seja, enxerga a vida como ela se mostra, como ela se apresenta. Isto não a satisfez. Logo preferiu o oposto de abrir os olhos que é entrar na escuridão do celular. De novo celular como algo negativo, tenebroso, um mundo sombrio e escabroso.
“Correu pro espelho pra se maquiar / Pintou de dor a sua palidez”
Maquiar, ou seja, disfarçar imperfeições. A maquiagem significa um disfarce a uma “palidez existencial”, uma apatia de não viver. A maquiagem por vezes revela uma dor que quer ser escondida. A maquiagem colocada muitas vezes tem o objetivo de cobrir dores, mas muitas vezes acaba sinalizando dores. Quando eu sei que existe uma ferida? Quando há um curativo. Muitas vezes a maquiagem sinaliza isso. Tenta esconder uma ferida, tenta curar uma ferida.
“E confiou sua primeira vez / No rastro de um pai que não via / Nem a própria mãe compreendia”
Uma análise freudiana de um édipo mal resolvido. Ausência de figura paterna, sinalizando uma carência corrente, demonstrando falta de orientação, de consciência moral. Assim como incompreensão da mãe.
“No passatempo de prazeres vãos / Viu toda a graça escapar das mãos / E voltou pra casa tão vazia”
Esquema de recompensa imediata em detrimento de algo significativo. Aqui o termo é “prazeres vãos” e não apenas prazeres. Os prazeres fazem parte da vida. Mas é preciso cuidado para não se tornarem vãos, vazios de sentido e de significado. Quando isso acontece, o que resta é o próprio vazio. A presença da ausência. A presença cheia de nada, oca. Por que não, lembrar das ocas dos índios, feitas de palhas, quase nada resistentes.
“Amanheceu tão logo se desfez / Se abriu nos olhos de um celular / Aliviou a tela ao entrar”
Primeiro ato de quem acorda (abrir os olhos?) mexer no celular. Assim como o viciado sente alívio ao entrar em contato com a substância viciante, assim é aquele que acorda e tão logo entra em seu celular.
“Tirou de cena toda a timidez / Alimentou as redes de nudez”
Mais uma vez, vestindo a máscara da aceitação, se vestir de um personagem que não é real apenas para agradar os amigos do virtual.
“Fantasiou o brio da rotina”
Fantasiou a dignidade da rotina, o valor, a dignidade da rotina. A rotina tem o seu valor. Mas é preciso saber equilibrar para, em vez de dramatizar o vil e fantasiar o brio, encarar o vil e valorizar o brio.
“Fez de sua pele sua sina / Se estilhaçou em cacos virtuais”
Fazer de sua pele seu destino, é achar que as aparências vão dizer mais do que a essência. Quando isso acontece, a cada postagem, um pedaço da singularidade vai ficando. A cada postagem do feed, a cada mosaico postado, é um pedaço deixado, um pedaço de si largado.
“Nas aparências todos tão iguais / Singularidades em ruína”
Nas aparências as tendências determinam poses, controlam comportamentos, manipulam posicionamentos, cria uma linha de produção, de montagem em série. As singularidades vão por água abaixo, destroem-se no meio dos iguais.
“Entrou no escuro de sua palidez”
A apatia existencial entra no que parece ser uma patologia, sai do estado de saúde mental e entre agora em um transtorno mental.
“Estilhaçou seu corpo celular / Saiu de cena pra se aliviar”
Significa o rompimento de seu corpo físico, o esgotamento dele, o estresse por manter este estilo de vida citado até agora. Com o corpo rompido, estilhaçado, há a possibilidade de uma retirada para se aliviar.
Alívio seria a palavra correta? O alívio dá uma sensação de paliativo, de passageiro.
“Vestiu o drama uma última vez / Se liquidou em sua liquidez”
“Última vez” pode sinalizar a postagem, a interação mais recente. Assim como também sinalizar a interrupção de uma atividade assim.
“Viralizou no cio da ruína”
“viralizar” é uma expressão utilizada quando um conteúdo se espalha e atinge grande alcance. O cio é um período em que há muita excitabilidade por parte das fêmeas. Podemos entender o cio como o viralizar, ambos períodos de excitação por certo tipo de conteúdo, no cio o sexual, no viral virtual, não tão somente o sexual.
Este cio é a excitação que gera ruína. Uma vez no cio, no cio para sempre desejarás está. Uma vez tendo um conteúdo viralizado, sempre nos virais desejará está. Algumas pessoas não conseguem lidar com esse tipo de “cio”. Estão sempre desejando-o e condicionando -se para provoca-lo. Daí o perigo! Daí a ruína!
“Ela era só uma menina”
Menina, novamente, falando sobre imaturidade emocional para lidar com questões voltadas a identidade, eu-no-mundo, singularidade, maneira-de-ser.
“Ninguém notou a sua depressão / Seguiu o bando a deslizar a mão / Para assegurar uma curtida”
Como eu vi recente em um post, “quem quer se matar avisa sim. Posta meme, diz tal coisa e tal coisa…”. A comunicação tem sido feita muitas vezes através de memes. Memes têm comunicado. Mas as pessoas não notam, passam batidas, seguindo o movimento de deslizar as mãos pra rolar o feed e garantir mais uma curtida.
Essa música retrata o quadro atual de jovens, não apenas mulheres, mas homens também, em suas angústias existenciais, em suas pertubações mentais, na busca de um sentido e significado para suas vidas. Por isso é importante falarmos hoje sobre um senso de significado.
O próprio autor relatou em algumas de suas últimas entrevistas cansaço por conta desse contexto digital. O mundo digital, da maneira que tem sido utilizado, adoecerá a humanidade cada dia mais.
FIM DAS CURTIDAS
A temática obsessiva acabou chamando atenção dos próprios criadores da rede que chegaram a anunciar o fim das Curtidas no Instagram. Depois de um blog especializado em notícias, novidades e segredos das redes sociais divulgou a possibilidade do Instagram esconder as curtidas nas postagens, a informação se confirmou, tendo sido anunciada dias atrás, na Conferência Anual do Facebook.
O que isto quer dizer?
Significa que quando o usuário rolar o seu feed na plataforma, ele não conseguirá mais visualizar o número de curtidas que as postagens das outras pessoas têm. É um pouco parecido com o que já fazem com os vídeos hoje em dia: o que aparece são apenas algumas pessoas em comum que curtiram, não sendo mais possível visualizar o número exato.
Mas se as pessoas postam nas redes sociais exatamente para conseguir likes e em busca de aprovação, por que o Instagram tomou tal atitude?
Na verdade, a ideia foi justamente acabar com esta competição social por curtidas que, muitas vezes, desencadeia sentimentos ruins, como a ansiedade, frustração, inveja e até depressão. No entanto, a alteração acabou atingindo outros pontos e deverá promover uma verdadeira revolução na forma de conviver com a plataforma.
Do ponto de vista do Marketing Digital, quem sobreviverá nessa nova fase será aquele produtor de conteúdo que realmente gera material de qualidade e relevância, muito diferente do que acontecia até agora. Não por acaso, o novo cenário tem assustado os mega digital influencers, que até então comprovavam sua relevância em cima da popularidade construída com base em números.
Levados pela multidão
De modo geral, as pessoas se deixam levar pela multidão, algo natural do comportamento humano. Tanto é que nas redes sociais sempre foi comum ver gente curtindo coisas simplesmente porque os números eram expressivos. Se todo mundo estava curtindo, elas acabavam dando o seu like também, até como uma forma de pertencimento.
A partir de agora, a tendência é que as curtidas aconteçam motivadas pelo conteúdo da postagem e até mesmo pela identificação de opiniões e ideias, uma forma de beneficiar os bons criadores, de agradar aos usuários e, acima de tudo, uma super oportunidade para o Marketing Digital e suas soluções estratégicas.
Se antes os comparativos em relação à expressividade no Instagram eram de difícil análise – afinal, não é possível estabelecer qualquer semelhança entre um restaurante e uma blogueira, por exemplo, por estarem em contextos completamente diferentes -, agora será mais justo! (Com informações: e-comercebrasil)
E então, qual a sua opinião? Fala aí nos comentários.
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