BAN KI-MOON CONDENOU ATAQUES EM ALEPPO, NA SÍRIA EPA/ANDREW GOMBERT/AGÊNCIA LUSA
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, condenou ontem (20) “o intenso ataque aéreo relatado nos últimos dias que mataram muitos civis sírios, incluindo crianças, e deixou o leste de Aleppo sem hospitais em operação.”
Ele também condenou “os bombardeios indiscriminados que foram lançados em áreas da província de Aleppo e nas partes ocidentais da cidade, incluindo ataques às escolas, que deixaram muitas crianças mortas.”
“O secretário-geral lembra a todas as partes do conflito que atacar civis e infraestruturas civis é um crime de guerra,” disse o seu porta-voz. “Ele pede a todos os lados que interrompam imediatamente os ataques.”
“Os responsáveis por estas e outras atrocidades na Síria devem ser responsabilizados por seus atos,” disse.
O secretário-geral também pediu a todas as partes que garantam a liberdade de movimentação dos civis e da ajuda humanitária.
Cento e dez pessoas foram mortas nas últimas horas devido a ataques aéreos no norte da Síria na cidade de Aleppo.
A SkyNews Arabia TV, citando ativistas, disse que 90 civis foram mortos pelos ataques aéreos da Rússia e Síria em áreas controladas por rebeldes no leste de Aleppo. Outros 20 civis foram declarados mortos durante conflitos que tiveram como alvo a cidade de Batabo, na zona rural de Aleppo.
O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou planos para combater a circulação de notícias falsas na rede social.
O Facebook foi alvo de polêmica após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, quando usuários, pesquisadores e colunistas de jornais americanos afirmaram que notícias falsas sobre os candidatos podem ter influenciado a escolha dos eleitores.
Os críticos afirmam ainda que a empresa não toma providências suficientes para impedir que grupos políticos espalhem boatos na rede.
Na noite do último sábado, Zuckerberg disse, novamente em uma publicação em seu perfil na rede social, que a empresa “trabalha com esse problema há muito tempo e leva essa responsabilidade a sério”.
Mas ele afirmou também que o tema é “complexo, tecnicamente e filosoficamente”, já que o Facebook não quer desestimular o compartilhamento de opiniões ou tornar-se “árbitro da verdade”.
Propostas
O CEO disse ainda que a empresa desenvolve sete propostas para combater a desinformação de maneira mais eficiente:
Desenvolver sistemas técnicos mais eficientes, para detectar o que as pessoas irão denunciar como falso antes que elas façam isso;
Tornar mais fácil o processo de denúncia reportagens falsas;
Fazer parcerias com organizações de checagem de fatos;
Rotular os links que foram denunciados como notícia falsa e mostrar avisos quando as pessoas lerem ou compartilharem estes links;
Aumentar a exigência de qualidade para os links que aparecem como “relacionados” na linha do tempo;
Dificultar o lucro dos sites de notícias falsas com anúncios;
Trabalhar com jornalistas para aprender métodos de checagem de fatos.
“Algumas dessas ideias irão funcionar e outras não, mas quero que vocês saibam que sempre levamos isso a sério, entendemos a importância deste assunto para nossa comunidade e estamos determinados a resolver isso”, afirmou o empresário.
A controvérsia mostra que, com mais poder, empresas como o Facebook terão suas práticas cada vez mais questionadas, diz o analista de tecnologia da BBC Dave Lee. E precisam saber responder a estes questionamentos.
“Há um abismo de prestação de contas entre o que as empresas de tecnologia fazem e o que permitem que o público fique sabendo. Não dá mais para Zuckerberg negar um problema e esperar que as pessoas simplesmente acreditem na palavra dele”, afirma.
“As ambições globais de Zuckerberg dependerão da sua habilidade de ser um político astuto. A polêmica das notícias falsas foi um teste importante e ele não se saiu bem – arrastando o assunto por mais de uma semana.”
Ideia ‘maluca’
Zuckerberg chegou a responder às acusações dizendo que a ideia de que notícias falsas na rede social teriam influenciado as eleições era “bem maluca” em uma conferência de tecnologia na Califórnia. E afirmou, em seu perfil, que 99% do conteúdo noticioso que circula no site é “autêntico”.
Na mensagem deste sábado, ele voltou a afirmar que “o percentual de desinformação é relativamente pequeno”.
Mas após suas declarações iniciais, o site Buzzfeed noticiou que funcionários do Facebook, insatisfeitos com a resposta do fundador da empresa, criaram uma força-tarefa informal para abordar o problema.
O site também publicou um levantamento mostrando que notícias falsas tiveram maior engajamento (participação) no site do que as verdadeiras nos três meses anteriores à eleição.
O número de sites de notícias falsas têm aumentado por causa dos lucros que podem ser obtidos com a venda de anúncios publicitários nestas páginas.
Alguns passam do conteúdo humorístico e satírico para invenções mais elaboradas porque acreditam que este conteúdo tende a ser mais compartilhado nas redes sociais – o que, por sua vez, gera mais acesso ao site.
Uma das reportagens mais compartilhadas no Facebook durante o período eleitoral americano, por exemplo, dizia que o papa Francisco declarou publicamente seu apoio a Donald Trump, algo que não ocorreu.
Na última segunda-feira, o Google anunciou que faria mais para impedir que sites de notícias falsas ganhem dinheiro através de anúncios em seu buscador.
Em seguida, o Facebook fez uma restrição semelhante ao uso de seu sistema de anúncios.
No primeiro pleito sem doação de empresas, os candidatos das eleições 2016 arrecadaram 64% a menos do que o angariado em 2012, segundo cálculo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Diante da tendência de menos dinheiro em caixa nos próximos pleitos, o Congresso já está articulando para que as empresas sejam liberadas para financiar a corrida eleitoral.
De autoria do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 113A/2015 determina o retorno das doações de empresas apenas para partidos. O texto, que já foi aprovado na Câmara dos Deputados, aguarda decisão do Senado.
Se aprovada, essa eventual alteração na Constituição revoga a decisão do Supremo Tribunal Federal que colocou um fim às doações de pessoas jurídicas sob o argumento de que a prática seria inconstitucional.
Devido a essa possível mudança, EXAME.com analisou quatro modelos de financiamento existentes bem como seus prós e contras.
Financiamento público
Segundo esse modelo, uma parcela do orçamento federal é destinado ao fundo partidário e dividido entre as legendas, que usam parte desses recursos para financiar a corrida eleitoral. Ou seja, nesse caso, a campanha é inteiramente financiada com dinheiro de impostos.
O Butão, na Ásia, é o único país que segue esse modelo. No Brasil, uma parte dos recursos de campanha vem do fundo partidário, que recebeu, em 2016, 60 milhões de reais dos cofres públicos.
PONTOS POSITIVOS: O uso de recursos públicos pode tornar a disputa eleitoral mais igualitária já que todos os candidatos partem de um mesmo valor ou de um montante proporcional à representação da legenda.
“Se você der x para todos os candidatos, eles terão campanhas semelhantes e o dinheiro deixa de ser um fator decisivo”, afirma Luis Alberto Rollo, professor de direito eleitoral do Mackenzie.
PONTOS NEGATIVOS: O problema com o financiamento exclusivamente público é que recursos que poderiam ser investidos em outras áreas, como saúde e educação, acabam destinados para a manutenção de partidos.
“Dinheiro do fundo partidário é de contribuição da população que não vai retornar diretamente para ela. Quando você destina esse valor para um fundo partidário, ele não vai para a construção de uma escola ou de um hospital. O que a população precisa mais? Saúde e educação ou dar dinheiro para campanha política?”, questiona o professor do Mackenzie.
Financiamento privado
Nesse caso, o dinheiro gasto com campanhas eleitorais é oriundo exclusivamente de doações de pessoas físicas e jurídicas. Também não existem países que adotam 100% do modelo privado. Mas em alguns locais, como nos Estados Unidos, as doações privadas são maiores do que o financiamento público. Nas eleições americanas deste ano, o dinheiro de pessoas físicas e jurídicas representou 82% do total investido nas campanhas.
PONTOS POSITIVOS: Fazer campanhas exclusivamente com dinheiro privado desonera o poder público, que pode destinar recursos antes ligados a partidos para outro setores.
“As eleições são importantes, mas elas custam dinheiro. Em países pobres, em desenvolvimento, essa é uma questão sempre presente. As pessoas questionam se o dinheiro investido em partidos é bem gasto”, afirma Michael Mohallem, professor de Direito da FGV-Rio.
PONTOS NEGATIVOS: Quando o dinheiro privado (especialmente de empresas) passa a fazer parte da corrida eleitoral, sempre há um desequilíbrio na balança visto que grandes partidos e candidatos com potencial de vitória tendem a receber mais doações.
“O dinheiro privado sempre vai trazer alguma desigualdade porque escolhe para onde ir. Quando se fala em empresas, esse potencial é muito maior”, afirma Mohallem.
O financiamento empresarial também subverte a relação entre políticos e empresas, que passam a ter mais poder de influência sobre a agenda política.
Uma prova disso são as revelações da Operação Lava Jato. Segundo as investigações, nos últimos anos, a doação empresarial para partidos e candidatos foi usada como meio de maquiar propinas em troca de contratos com estatais.
Financiamento misto com doações de pessoa física e jurídica
Esse era o modelo em vigor no Brasil até o ano passado. Nele, parte do dinheiro da campanha é proveniente do fundo partidário, mas os candidatos podem receber doações tanto de pessoas físicas quanto de empresas.
PONTOS POSITIVOS: Em comparação com o financiamento exclusivamente privado, o misto é mais equilibrado por garantir que as legendas irão receber pelo menos recursos do fundo partidário e não irão depender apenas das doações. “Assim, todos os partidos e candidatos têm pelo menos uma condição mínima”, diz o cientista político Marcelo Issa, sócio da Pulso Público.
PONTOS NEGATIVOS: Dinheiro empresarial em campanhas desequilibra a disputa eleitoral e subverte a relação entre partidos e empresas.
Financiamento misto com doações apenas de pessoa física
Esse é o modelo de financiamento que temos no Brasil atualmente. As campanhas são financiadas com dinheiro público e doações de pessoas físicas, no caso do Brasil, com o limite de 10% de seu rendimento bruto no ano anterior à eleição.
PONTOS POSITIVOS: Em teoria, a maior dependência dos políticos do eleitor poderia aproximar ambos . “Para o sujeito conseguir conquistar o dinheiro de alguém, ele precisaria ser muito convincente. A pessoa só vai doar para o que ela acredita”, afirma Mohallem.
PONTOS NEGATIVOS: Um dos principais problemas é que, sem um limite nominal para as doações, políticos mais ricos podem financiar a campanha com dinheiro do próprio bolso. Isso gera uma desigualdade entre os candidatos e pode levar partidos a escolher candidatos com maior poder financeiro. O mesmo acontece com eleitores mais abastados – como donos de grandes empresas.
“Se for feito um exame superficial, a medida de manter apenas pessoas físicas não trouxe uma solução na questão do caixa dois ou do recurso não contabilizando, permanecendo abuso do poder econômico. Não houve um recebimento adequado de pessoas físicas e alguns candidatos efetivamente tiveram uma disponibilidade financeira maior”, diz o presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP, Luis Salata.
De acordo com Mohallem, instituir um teto nominal para as doações evitaria essa influência dos mais ricos sobre o pleito. “Com um valor percentual em cima da renda, você cria uma desigualdade sobre quem pode escolher o candidato”, diz.
Há uma solução?
Todos os especialistas consultados por EXAME.com defendem a determinação de um teto nominal seja para doações de pessoas físicas ou jurídicas — caso o Congresso aprove a PEC do financiamento empresarial de campanha.
Até o ano passado, as empresas podiam doar até 2% de rendimento bruto anual— percentual que, para grandes empresas, significa muito dinheiro. A Odebrecht, por exemplo, que é suspeita de maquiar propinas em forma de doação eleitoral poderia doar no pleito de 2014, no máximo, 2,154 bilhões de reais. Segundo o TSE, a empresa investiu 8,5 milhões de reais.
“Uma empresa que tem uma receita altíssima, vai poder doar uma quantidade muito grande de recursos e vai causar um desequilíbrio. O certo seria colocar um volume absoluto para a doação. Assim vai ter máximo, um teto fixo. Isso tornaria a situação menos desigual”, completa Issa.
Em 2014, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, as empresas responderam por 76,47% do total de 3 bilhões de reais doados para campanhas eleitorais. Sem um teto para esse tipo de relação, o resultado pode ser mais casos semelhantes ao descoberto nas investigações da Operação Lava Jato.
Participantes do setor de GLP dão como praticamente certa a imposição de restrições por parte do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) na aquisição da Liquigás pela Ultragaz, do Grupo Ultra, o que desperta a interesse de concorrentes que disputavam o ativo e acabaram ficando de fora.
A Nacional Gás é uma delas. Conforme Guilherme Dantas, sócio do setor societário e concorrencial do Siqueira Castro Advogados, a Nacional Gás Butano está à disposição de órgãos concorrenciais para participar de eventuais “remédios”. Na disputa pela Liquigás, a companhia havia formado um consórcio com a Copagaz.
O Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, questionou Thilo Mannhardt, diretor presidente do Grupo Ultra, se teria conversado com outros participantes do setor de fornecimento de GLP durante a negociação pela aquisição da Liquigás e ele respondeu com uma pergunta: “Não, por que deveria?”
Relatório do Santander assinado pelos analistas Gustavo Allevato e Christian Audi diz que a empresa resultante da combinação de Ultragaz e Liquigás deterá quase metade do setor de distribuição de GLP no Brasil.
Conforme cálculos da equipe de análise do banco, no Sudeste, as companhias terão cerca de 47% da participação de mercado, enquanto o segundo maior participante deterá 23%. No Estado de São Paulo, que concentra em torno de 25% do consumo do País, a nova empresa terá cerca de 60% da fatia de mercado.
No Nordeste, Ultragaz e Liquigás juntas terão cerca de 47% de participação, com o segundo maior participante ficando com aproximadamente 35%. Já no Sul, a nova empresa terá mais da metade do mercado, com o segundo colocado respondendo por cerca de 26%, conforme os cálculos dos analistas do Santander baseados em dados da Abegás.
Leonardo Duarte, sócio da área de antitruste da Veirano Advogados, afirma que se trata de uma análise desafiadora do ponto de vista concorrencial, por se tratar de um setor já bastante concentrado.
Além disso, trata-se da união de líderes de mercado, lembra. “Concentrações dessa magnitude sempre geram preocupações”, explica. “Serão necessários argumentos muito fortes para demonstrar que a empresa resultante não vai prejudicar a concorrência efetiva nas demais companhias.”
Duarte lembrou ainda que o setor possui histórico de investigação de cartéis no Cade. “O órgão vai analisar como o negócio vai afetar a dinâmica do mercado”, explica.
De acordo com o advogado, o prazo previsto em lei para que o Cade chegue a uma decisão é de 240 dias, período que pode ser estendido por até 60 dias mediante requisição das partes envolvidas ou por até 90 dias, por meio de pedido do Tribunal do Cade, totalizando 330 dias.
O analista Caio Carvalhal, do Brasil Plural, escreveu que a aprovação do Cade é crítica e ao mesmo tempo incerta.
Proteção à Petrobras
Conforme apurou o Broadcast com fontes, a Petrobras incluiu no acordo uma cláusula que a protegeria, independentemente de quaisquer barreiras que venham a ser enfrentadas para a consolidação da aquisição da Liquigás pela Ultragaz, devendo assim receber o valor acordado – no caso, R$ 2,8 bilhões corrigidos pelo Certificado de Depósito Interbancário (CDI). Esse contrato é usual em operações de venda de ativos.
No domingo, 20, a gerente executiva de Aquisições e Desinvestimentos da Petrobras, Anelise Quintão Lara, afirmou que o problema concorrencial foi avaliado durante o processo de negociação e o Ultra se comprometeu a encontrar uma solução.
“A responsabilidade por resolver o problema concorrencial é do Grupo Ultra, que já está preparado para isso”, disse a gerente da Petrobras. Ela argumentou também que “qualquer uma das empresas do setor que comprasse a Liquigás poderia ser questionada pelo Cade”.
A dúvida de analistas do mercado financeiro é se, caso o Cade exija a venda de participações em localidades, o grupo Ultra vai conseguir atingir o mesmo múltiplo pago à Petrobras.
Os profissionais de análise foram unânimes na constatação de que a Ultrapar pagou um preço elevado, embora o negócio ainda assim tenha sido considerado positivo para a empresa, em razão das sinergias potenciais e da oportunidade única de expansão.
Relatório do JPMorgan diz que o negócio implica um elevado múltiplo EV/Ebitda de cerca de 15 vezes – porcentual mais elevado do que os múltiplos históricos estimados para a Ultrapar, em torno de 6 vezes a 7 vezes.
Mas o grupo Ultra estaria mirando o longo prazo, cujo movimento, na visão dos analistas, foi estratégico. “Conforme nossas conversas com a empresa, a Ultrapar está esperando um potencial Ebitda superior a R$ 700 milhões, o que incorporaria a maior parte das sinergias da transação”, cita o relatório do JPMorgan.
Já analistas do BTG Pactual calcularam que a compra da Liquigás corresponde a um múltiplo EV/Ebitda referente a 2015 de 13 vezes. “Sim, o múltiplo da aquisição é elevado, mas também é o potencial de ganho de rentabilidade”, diz o relatório do banco.
Os analistas do UBS, Luiz Carvalho e Julia Ozenda, escreveram que, apesar de a primeira vista os múltiplos não parecerem muito atraentes, o movimento é positivo para a Ultrapar, que, com isso, consolida o negócio de GLP no Brasil.
Lembra ainda que esta é a segunda aquisição relevante feita pela companhia neste ano – a primeira foi a compra da Alesat, uma das quatro maiores empresas de distribuição de combustíveis do País.
Em meados de junho, o grupo Ultra anunciou a aquisição da Alesat Combustíveis por R$ 2,168 bilhões. Até agora, não há aprovação do Cade para o negócio.
LOJA DAS CASAS BAHIA: OPERAÇÃO NO VERMELHO (GERMANO LUDERS/REVISTA EXAME)
O grupo de varejo Pão de Açúcar viveu uma sequência de situações complicadas nos últimos anos. A mais escancarada delas foi a feroz disputa societária entre Abilio Diniz, antigo dono da companhia, e o varejista francês Casino, que assumiu o controle em 2012. A relação entre a empresa e a família Klein, que vendeu a rede de eletroeletrônicos Casas Bahia ao Pão de Açúcar em 2009, também nunca foi das melhores. Além disso, havia o desafio de fazer a empresa crescer em meio à pior recessão do país.
Altos executivos saíram e as negociações com fornecedores tornaram-se duríssimas — alguns chegaram a interromper as vendas para o grupo. As vendas caíram no ano passado, quando a companhia teve seu primeiro prejuízo em mais de uma década. Pior que isso: um de seus principais concorrentes, o Carrefour (do qual Abilio é, hoje, o terceiro maior acionista), está investindo cerca de 1,5 bilhão de reais e anunciou o plano de abrir o capital para financiar seu crescimento no país.
Pressionado, o Pão de Açúcar achou que era o momento de encarar mais um problema: o destino da Via Varejo, rede de eletroeletrônicos controlada pelo grupo que é dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio.
O Brasil é o único país em que o Casino tem uma grande rede de eletrônicos — uma empresa semelhante é a francesa C-Discount, mas ela vende apenas eletrodomésticos e artigos de vestuário e tem uma participação de mercado modesta. Nos demais países em que atua, o Casino controla supermercados e lojas de conveniência. Segundo executivos próximos ao Pão de Açúcar, os franceses nunca tiveram a intenção de ficar com a Via Varejo, mas acabaram mantendo a empresa porque ela dava bons resultados.
Em 2013, quando teve lucro recorde de 1,2 bilhão de reais, a empresa era considerada a “joia da coroa” do Pão de Açúcar pelos analistas. Do início de 2015 para cá, porém, a Via Varejo não teve lucro em nenhum trimestre. Já os supermercados continuaram crescendo. Diante disso, no início de novembro o grupo decidiu procurar os bancos (o primeiro a ser acionado foi o Santander) e pedir soluções para a Via Varejo.
Uma das alternativas estudadas é vender a empresa. A outra é fazer uma oferta de ações, na qual o Casino aproveitaria para vender parte de sua participação na companhia.
Os recursos poderiam ser usados para reduzir o alto endividamento do Casino (a dívida equivale a seis vezes a geração de caixa; no Pão de Açúcar, a relação é de apenas 1,5 vez). Outra opção que está sendo analisada é mudar a operação da Via Varejo para tentar torná-la mais rentável: isso poderia ser feito unindo as bandeiras Casas Bahia e Ponto Frio ou vendendo uma das marcas.
Ao manter as duas marcas, a companhia pretendia atender públicos distintos — o Ponto Frio seria voltado para o topo da pirâmide e a Casas Bahia ficaria com a baixa renda. Mas, de acordo com profissionais do grupo, a estratégia não funcionou — em parte, porque a empresa manteve lojas do Ponto Frio em bairros populares e fechou filiais em -shoppings de alta renda. Casino, Pão de Açúcar e Via Varejo não deram entrevista.
A recessão está prejudicando os resultados da grande maioria dos varejistas no Brasil, mas a situação da Via Varejo é pior hoje do que a de seus principais concorrentes. Analistas e executivos de mercado atribuem seu desempenho ruim a mudanças na gestão e à política agressiva de preços da Cnova, empresa que reúne as vendas online do Pão de Açúcar. Como Via Varejo e Cnova eram empresas diferentes, com estruturas completamente separadas, elas competiam entre si.
“Com a política agressiva de preços, a Cnova canibalizava inclusive a Via Varejo”, diz Guilherme Assis, analista do banco Brasil Plural. Em outubro do ano passado, a família Klein, acionista da Via Varejo, enviou uma carta ao conselho de administração da empresa reclamando que a política de preços da Cnova estava prejudicando a Via Varejo.
Em agosto, o Pão de Açúcar anunciou que integraria as operações da Cnova às da Via Varejo, e a reorganização societária que foi concluída em outubro. O objetivo é conseguir sinergias de 325 milhões de reais neste ano e ganhos anuais de 245 milhões a partir de 2017 com a integração de áreas como marketing e tecnologia, além das políticas de compras e preços. Essa iniciativa valorizou as ações da Via Varejo em 35% desde agosto.
“A sinergia pode melhorar a rentabilidade. Não faz o menor sentido manter estruturas separadas”, diz Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria especializada em varejo.
Um complicador extra na gestão da rede é a alta rotatividade de executivos. Nos últimos quatro anos, a Via Varejo teve cinco presidentes (no mesmo período, o Pão de Açúcar e a Cnova tiveram dois). Cada presidente que chega modifica a equipe e a estratégia conforme seus credos — e conforme o nível de interferência de Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, segundo afirmam executivos e ex-profissionais do grupo.
Antonio Ramatis, que foi presidente da Via Varejo em 2013, escreveu uma carta ao renunciar ao cargo dizendo que sua saída se devia a interferências em seu trabalho. Quando questionados sobre a grande rotatividade de profissionais, executivos do grupo costumam rebater dizendo que a composição do conselho de administração mudou pouco desde 2012 — e o presidente do conselho é Ronaldo Iabrudi, que comanda o Pão de Açúcar desde 2014.
A vez do comprador
A decisão de vender a Via Varejo acontece num momento muito mais favorável para os possíveis compradores do que para o Pão de Açúcar. Apesar de suas ação terem valorizado recentemente, a Via Varejo vale 4 bilhões de reais na bolsa, o equivalente aos recursos que tem em caixa — ou seja, os investidores não atribuem nenhum valor às marcas da companhia nem a seus estoques. Em 2013, o valor de mercado era quase três vezes maior.
Concorrentes nacionais, como Lojas Americanas e Magazine Luiza, precisarão de financiamento para fazer a aquisição caso tenham interesse no negócio. Isso porque a Via Varejo é quase duas vezes maior do que o Magazine Luiza, e a Lojas Americanas tem uma dívida mais alta (além disso, a Americanas tem avaliado outras aquisições, como a rede de postos de combustíveis BR, que pertence à Petrobras).
Os bancos começaram a oferecer a empresa a varejistas estrangeiros, como a alemã Steinhoff, que tem um modelo semelhante ao da Casas Bahia (também vende eletroeletrônicos e móveis, além de ter uma fábrica de móveis).
Com a recessão e as margens apertadas, uma empresa de eletroeletrônicos é vista como um negócio de altíssimo risco no Brasil atual. A família Klein, que é tida como potencial compradora, tem afirmado que não quer controlar a companhia — hoje, tem 27% do capital da Via Varejo (procurados, os Klein não deram entrevista). Pode ser uma estratégia para baixar — ainda mais — o preço. Para o Pão de Açúcar, isso significa que os próximos meses devem continuar conturbados.
RIO DE JANEIRO – REFUGIADOS DO CONGO CAMINHAM NA PRAIA DE COPACABANA EM ATO CONTRA A GUERRA CIVIL, VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E POR GARANTIA DE ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS EM SEU PAÍS (FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL) FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, foi a data escolhida pela comunidade refugiada da República Democrática do Congo no Rio de Janeiro para pedir paz e democracia no país africano, que está em guerra há 20 anos. Cerca de 100 pessoas se reuniram na Avenida Atlântica, com cartazes pedindo paz e democracia, e cantaram músicas do Congo e o hino nacional. Alguns integrantes do movimento explicavam às pessoas que passavam pelo local a situação do Congo. Depois, o grupo saiu em passeata cantando e dançando até o Forte de Copacabana, onde foi realizado um ato ecumênico.
Há oito anos no Brasil, o refugiado congolês Charly Kongo afirmou que o objetivo do ato foi sensibilizar o povo brasileiro para a situação vivida no país africano. “A gente resolveu fazer esse ato porque o dia tem um significado para o povo negro. A gente quis usar esse dia também para mostrar o desejo do povo congolês na procura pela liberdade, a democracia e o desejo de paz em nosso país. Nós fugimos da guerra e estamos só pedindo paz e democracia. A falta de democracia e a guerra que fazem a gente fugir para o Brasil ou outros países”.
De acordo com Charly, a eleição prevista para dezembro foi desmarcada pelo presidente do Congo, Joseph Kabila, que está há 15 anos no poder. “Em dezembro não vai ter eleição, já está claro. Os políticos estão tentando fazer alguns acordos. Mas o desejo real do povo é a democracia, a alternância de poder lá”.
Os refugiados pedem ao governo brasileiro mais apoio para conseguir sair do país africano e se estabelecer aqui. Julia Salú está no Brasil há dois anos, onde chegou grávida e com três filhos. Ela diz que, apesar de ter sido bem acolhida no país, o processo poderia ser mais humanizado e rápido.
“Estamos pedindo ajuda ao governo brasileiro para ajudar o povo, porque quando chega não tem lugar para morar. É muito difícil, eu passei por isso, cheguei grávida e com três filhos, não conhecia ninguém e não tinha para onde ir. Fiquei na casa de outra congolesa que eu não conhecia, até me estabelecer. Se o governo tivesse um lugar para acolher os refugiados congolenses que chegam, ajudaria muito. E ver a questão de documentação também; eles dão, mas demora um tempo”.
Segundo o Ministério da Justiça, os congoleses são a quarta maior comunidade refugiada no Brasil, com quase mil pessoas, atrás dos sírios, angolanos e colombianos. A agente de proteção legal no programa de refugiados da Cáritas Aryadne Bittencourt explicou que o ato, o primeiro organizado pelos refugiados, teve o objetivo de aproximar o brasileiro da realidade da República Democrática do Congo.
“O objetivo de trazer esse movimento para a praia é tentar aproximar uma realidade que parece distantes, que está no meio da África, com décadas de violência e morte, por uma realidade aqui no Brasil. A diáspora congolesa está espalhada para o mundo inteiro. Os congoleses são a quarta principal nacionalidade de refugiados reconhecidos no Brasil e uma das principais nacionalidades que continuam chegando. Aqui no Rio, a comunidade mais forte e densa de refugiados é formada pelos que chegam da República Democrática do Congo”.
Para ela, a escolha da data do evento evidencia a invisibilidade que os problemas de países africanos têm na sociedade. “Parte da motivação da indignação dos refugiados sobre a falta de pauta de refugiados congoleses na mídia, nos estudos ou na sociedade civil se remete a um lugar social que os negros têm, tanto no Brasil quanto no mundo. Hoje, a principal mobilização sobre pessoas refugiadas no mundo se refere aos sírios. A gente não pode negar a tragédia humanitária que é a situação na Síria, mas tem cinco anos, enquanto os congoleses nos últimos 20 anos têm mais de 6 milhões de mortos e ninguém fala sobre isso. Então, fazer no dia 20 é poder relacionar o lugar racial nessa questão humanitária”.
República Democrática do Congo
Segundo maior país da África, a República Democrática do Congo, chamada de Zaire entre 1971 e 1997, fica na região central do continente e tem uma população de 70 milhões de habitantes. De colonização belga, conseguiu sua independência em 1960 e a língua oficial é o francês.
A guerra no país é considerada a mais sangrenta desde a 2ª Guerra Mundial, com mortos e desaparecidos estimados em 6 milhões de pessoas e envolvendo milícias e exércitos vizinhos e o controle de territórios ricos em diamante. Desde 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) mantém uma missão no país com o objetivo de contribuir para o processo de paz, chamada de Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (Monusco).
Há 15 anos no poder, o presidente do Congo, Joseph Kabila, adiou para julho de 2017 a eleição que deveria ocorrer no dia 19 de dezembro, conforme previa a Constituição aprovada em 2006, com o argumento de que o país está realizando o censo eleitoral e não tem condições de organizar o pleito neste momento. Ele assumiu o poder em 2001, após o assassinato do então presidente, seu pai Laurent-Désiré Kabila, e venceu as eleições presidenciais em 2006 e em 2011.
A CHANCELER DA REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA, ANGELA MERKEL, SE PREPARA PARA A ELEIÇÃO MAIS DIFÍCIL DE SUA CARREIRAWILSON DIAS/ARQUIVO AGÊNCIA BRASIL
A chanceler alemã, Angela Merkel, confimou ontem (20) que concorrerá a um quarto mandato, mas admitiu que está se preparando para enfrentar a campanha eleitoral mais difícil de sua carreira. “Esta eleição vai ser ainda mais difícil do que as anteriores”, disse Merkel, ressaltando uma “forte polarização” da sociedade e prometendo lutar “pelos nossos valores e pelo nosso modo de vida”, segundo a Agência Ansa.
Os jornais alemãs amanheceram nesta segunda-feira analisando a decisão de Merkel de concorrer à reeleição como presidente de seu partido, o União Democrata-Cristão (UDC), na convenção nacional do mês que vem. De acordo com a maioria dos analistas ouvidos pela mídia do país, o nome de Merkel desponta naturalmente diante da falta de opções de lideranças. “Mekel tentará, mas quem mais tentaria?”, questiona o jornal conservador Welt na sua primeira página, ressaltando que uma das tarefas da chanceler nos próximos quatro anos será criar um sucessor.
Em tom crítico, o diário Spiegel comentou que “não foi possível traçar, durante os 25 minutos de discurso de Merkel na televisão ontem, o programa de governo e as propostas que a chancelar apresentará aos alemães depois de 11 anos de governo”.
Aos 62 anos de idade, Merkel completa mais de uma década no governo da Alemanha, período no qual enfrentou uma série de crises internas e europeias. A chanceler se tornou a primeira mulher a assumir o posto na Alemanha unificada, em 2005.
Ela disputará a eleição para a Presidência de seu partido e, caso vença, concorrerá no pleito geral que deve ocorrer entre agosto e outubro do ano que vem. Pesquisas locais indicam que 60% dos eleitores apoiam um novo mandato de Merkel, que é vista como força estabilizadora dentro da Europa, em um momento em que o continente sofre com as consequências do Brexit e do crescimento de partidos nacionalistas de extrema-direita.
EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES (ENADE) 2016
O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) 2016 teve a participação de 90,7% dos inscritos e registrou a menor taxa de abstenção para o primeiro ciclo de avaliação, que compreende as áreas de saúde, ciências agrárias e áreas afins. A abstenção foi de 9,3%, contra 14,1%, em 2013 e 19%, em 2010. No total, 195.859 concluintes de cursos de graduação de 18 áreas fizeram as provas neste domingo (20), de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
As áreas de avaliação do Enade são definidas de acordo com o ciclo trienal do exame. Neste ano, participaram os estudantes de agronomia, biomedicina, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, veterinária, nutrição, odontologia, serviço social e zootecnia. Também foram avaliados os concluintes de cursos tecnólogos nas áreas de agronegócio, estética e cosmética, gestão ambiental, gestão hospitalar e radiologia.
As maiores abstenções foram em tecnologia de gestão ambiental (23,1%) e tecnologia em radiologia (17,5%). Entretanto, medicina registrou apenas 1,9% de ausentes, e odontologia, 4%. Por unidade da Federação, as maiores abstenções foram no Amazonas (20,2%), Roraima (14,3%) e Pernambuco (13,4%). Rio Grande do Sul teve o menor número de ausentes (6,1%), seguido de Rondônia (6,2%) e Ceará (6,4%).
Gabarito e Questionário
O gabarito das questões objetivas será divulgado na próxima quarta-feira (23), e a data de publicação do padrão de resposta das questões discursivas será divulgada oportunamente. Todos os participantes têm até 30 de novembro para preencher o Questionário do Estudante, exclusivamente pelo Sistema Enade. O questionário é obrigatório, e o estudante que não o preencher não poderá colar grau.
Aplicado pela primeira vez em 2004, o Enade integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, composto também pela Avaliação de Cursos de Graduação e Avaliação Institucional. Juntos, eles formam o tripé avaliativo da qualidade dos cursos e instituições de educação superior. Os resultados do Enade, aliados às respostas do Questionário do Estudante, são fundamentais para o cálculo dos indicadores de qualidade da educação superior.
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