Em discurso de mais de uma hora a sindicalistas de São Paulo nesta terça-feira (23), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que pretende ajudar a presidenta Dilma Rousseff em seu governo mesmo sem ser ministro, que é preciso defender a democracia no país e evitar o que ele chamou de golpe contra o atual governo.
“Nem que seja a última coisa que eu faça na vida, vou ajudar a Dilma a governar esse país com a decência que o povo merece”, disse o ex-presidente em evento organizado pelas centrais sindicais na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, centro de São Paulo. O evento, segundo as entidades, foi convocado para defender “a democracia e o Estado de Direito” e contra o processo de impeachment da presidenta Dilma.
Sobre o convite para integrar o governo Dilma, Lula disse que foi chamado pela primeira vez em agosto do ano passado, mas recusou. Com o agravamento da crise, Dilma insistiu e ele resolveu aceitar.
Na semana passada, o ex-presidente tomou posse na Casa Civil, mas a nomeação foi suspensa por decisões liminares e pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. O governo tenta reverter a decisão no tribunal. Segundo Lula, sua missão na Casa Civil será “conversar, ouvir as pessoas”.
Durante o discurso, o ex-presidente também disse que a questão econômica será resolvida, mas que é preciso lutar o mais rápido possível contra o que ele chamou de golpe contra o governo Dilma. “É golpe. Não tem outra palavra. Esse país não pode aceitar o golpe. A economia a gente resolve amanhã, mas evitar o golpe é hoje”. Segundo ele, a crise que o país enfrenta hoje será resolvida com a ajuda do povo. “Este país é tão extraordinário, com povo tão extraordinário que quem pode ajudar a resolver a crise desse país é o povo.”
Lula disse que o Brasil vive o período mais longo de democracia contínua e comparou a crise política atual a momentos da história como o golpe contra o governo de Getulio Vargas e as tentativas de impedir a candidatura de Juscelino Kubitscheck.
O ex-presidente defendeu Dilma e disse que não há razões que justifiquem o impeachment da presidenta. “Não existe nenhuma razão para o impeachment. Se juntarem 800 juristas verão que não há nenhuma razão, nenhum fato”. Para Lula, as pessoas estão sendo condenadas “pelas manchetes de jornais antes de serem julgadas”.
Dirigindo-se aos opositores do governo, o ex-presidente disse que “eles têm que aprender que ganhamos essa eleição pelo voto democrático”.
“Se eles quiserem ir para a presidência, que esperem 2018. Eu esperei. Não queiram fazer o golpe na Dilma que não vamos facilitar”, disse.
Com a voz bastante rouca e falha, Lula foi bastante aplaudido e teve o discurso interrompido diversas vezes por gritos de “Não vai ter golpe” da plateia. O petista fez críticas à operação Lava Jato e disse que a investigação provoca prejuízos financeiros ao país.
Lula também fez críticas aos movimentos contrários ao governo que, em geral, saem às ruas usando camisas verde e amarela. Para ele, isso parece “torcida organizada”. “As pessoas acham que quem usa camisa verde e amarela é mais brasileiro. Tem muita gente que acha é mais brasileiro que nós ou que o dólar está alto. Se eles não podem viajar para Miami, que viajem para Garanhuns [em Pernambuco]”, brincou.
Agência Brasil
O Ministro do STF Dias Toffoli afirmou, nesta quarta-feira (23), que não vê o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff como um golpe.
“O processo de impeachment é previsto na constituição e nas leis brasileiras. Não se trata de um golpe. Todas as democracias têm mecanismos de controle e o processo de impeachment é um tipo de controle”, disse Toffoli ao “Jornal Nacional”, da Rede Globo.
Na última terça (22), em discurso em que defendeu o seu mandato, a presidente Dilma Rousseff disse que não “renunciará de jeito nenhum” e se apropriou de um dos gritos mais comuns dentre as pessoas que defendem o seu governo ao afirmar ter certeza de que “não vai ter golpe”.
O ministro não quis dar a sua opinião sobre o processo em curso na Câmara dos Deputados contra a presidente. Ele afirmou, no entanto, que, caso o andamento do impeachment esteja fora das regras legais, o Supremo poderá ser acionado para impedir que ocorra alguma injustiça.
“Aqueles que se sentirem atingidos podem recorrer à Justiça brasileira. O que ocorre hoje é a democracia. É muito melhor vivermos desta forma, do que sob uma ditadura”, declarou Toffoli.
Fonte: Folha de São Paulo
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